Após a queda da mítica Atlântida, poderes são aprisionados no Cometa-Prisão e a libertação deles dão início a uma nova ordem.
 
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 Episódio 07 - Casamento do Sol e da Lua

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MensagemAssunto: Episódio 07 - Casamento do Sol e da Lua   Episódio 07 - Casamento do Sol e da Lua EmptyQui Jan 28, 2021 10:55 am

Quando Yaset e Za-har, após anos de adaptação um ao outro, partem em uma jornada para ganhar a confiança dos Portadores dos Artefatos Atlantes desta era e receberem a Bênção para seu Casamento Alquímico.
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MensagemAssunto: Re: Episódio 07 - Casamento do Sol e da Lua   Episódio 07 - Casamento do Sol e da Lua EmptyDom Fev 07, 2021 6:40 pm

CENA 1


Atlântida, Cordilheira Meso-Atlântica, Oceano Atlântico, 1915.

Cinco anos se passaram desde o dia em que Yaset reencontrou Zuhur. O espírito do regulano agora habita o corpo do atlante Za-har. Com a ajuda de sua noiva de eras atrás e de um mundo distante, o guerreiro conseguiu a proeza de ser reconhecido como o Zuhur desta época. Milênios separaram o casal, hoje o nome do noivo é um título entre os habitantes da antiga cidade regulana e a noiva, embora seja de uma raça alada, não encontrou dificuldade de se adaptar à cidade submarina. Um ano depois, Yaset libera um ovo, nele, o último filho de Atlântida, que havia sido concebido no dia da destruição de Regulus. O casamento entre Za-har e Yaset foi festejado antes da liberação do ovo. Isto não foi visto com bons olhos por parte da sociedade atlante. Queriam um filho legítimo da raça anfíbia. Embora estivesse nos planos do casal, Yaset preferiu conhecer e estudar a cultura daquela cidade, sua língua e suas tradições, enquanto utilizava sua energia táumica para aquecer o herdeiro da Atlântida regulana.

Naquele mesmo ano, Anton Schultz, carregava Kohukohu em sua cabeça. A entidade explanar foi reduzida a uma espécie de verme, que rastejou para o ouvido do iluminado e se alojou em sua caixa craniana. Falando diretamente à sua mente, Kohukohu revelou segredos ao mago. Sua história e a história do Abismo. A invasão de Regulus e a destruição de Atlântida. De como foi capturada por uma encarnação anterior de Zuhur e trancafiada na escultura dracônica do Mausoléu Atlante. Mas o mais importante conhecimento dado a Anton foram os rituais para trazer os Acólitos do Abismo para a Terra e a revelação de que existem artefatos regulanos espalhados pelo globo. Anton criou um grupo de mercenários, uma elite para se transformar no grupo que serviu a Kohukohu eras atrás. Durante um ano, Anton percorreu o submundo, escolhendo aqueles que pudesse influenciar e controlar, fazendo contato com um grupo de mercenários formado por Tyler, um inglês alto e louro, ex-soldado da coroa britânica; Roderick, um atirador americano ruivo; Shang, um lutador clandestino vindo direto de Longshan; e Maya, uma sulamericana alta e musculosa.

***

Quatro anos atrás, Ban ganhou o direito de disputar o Cinturão do Dragão, derrotando Shang, o capanga de Schultz, mas perdeu o título de Senhor do Dragão, que permaneceu com Diwu, o campeão há três gerações. Paralelo a isto, Ji, um desertor do clã do metal, conseguiu fugir justamente com a ajuda de Schultz, transformado numa lebre preta e convocando-o como o novo Acólito do Abismo. Era chegada a hora de Ji retribuir o favor e conseguir vingança contra seu antigo clã.

***

Três anos antes, Wanyama reconhecia Kitok como seu herdeiro, quando o jovem conquistou não só seu totem, mas um totem extremamente especial, o Guepardo Espectral. O felino, na verdade, era o guardião das Sandálias da Velocidade, artefato atlante escondido no continente africano. Para sua infelicidade, conquistou dois inimigos: Pekee, meio irmão gorila de Argh, o garoto que salvou Kitok da morte; e sua irmã Nefret, a responsável pela humilhação inicial a qual o príncipe passou. Exilada, ela encontrou um grupo de caçadores, liderado por Tyler, um dos mercenários de Schultz, que perseguia Jakku em sua forma de rinoceronte. Amargura com a expulsão de Wanyama, Nefret forjou uma aliança com o grupo, tornando-se também uma Acólita do Abismo.

***

Depois de dois anos, Lahyla não conseguiu encontrar o Chapéu da Fortuna sob as ruínas da tumba em que Haermys estava sendo contido. Apesar da ajuda do elemental, vivendo hoje entre os pulmões da dançarina das estrelas, a exploração dos escombros não foi frutífera. Talvez tivesse sido roubado, afinal, um grupo de salteadores rondava a região, liderado por Roderick, o mesmo bando que trucidou a tribo de Lahyla, fazendo-a prisioneira e a perseguindo até encontrar abrigo junto a Dastan. O nômade foi de grande ajuda na exploração, mas terminou por ser capturado pelo bando e usado em rituais sob o comando de Schultz, para que um dos outros fantasmas que compartilhavam seu corpo assumisse o controle. A vontade férrea do nômade foi a grande barreira durante este biênio, mas, finalmente, Dastan foi subjugado.

***

Ano passado, no período da Festa Lua, Werena viu seu mundo mudar completamente. Sua mãe, Mayara, foi morta por um grupo de madeireiros. O escudo da Icamiaba foi roubado e empunhado por Maya e depois por Ubiratã, o antigo interesse de Werena. Após as amazonas recuperarem o corpo e o artefato de Mayara, o ritual fúnebre e de convocação da nova Icamiaba foram feitos. Werena e Tayná disputaram o Escudo-Espelho, guardado pela Anaconda Anciã, uma serpente espiritual formada pelas almas das antigas Icamiabas. Utilizando seus poderes de sacerdotisa, embora em uma forma masculina, Werena venceu Tayná, provocando o cisma entre as amazonas. A arqueira lidou com a sua frustração de maneira não convencional, torturando a prisioneira do grupo de madeireiros, Maya. Provocando a insatisfação de Tayná, a Acólita do Abismo falou de sua ordem, terminando por convencer e convocar a arqueira para seu grupo.

***

Nos anos anteriores, Yaset teve sensações estranhas. Seu ovo também parecia sentir algo semelhante, visto que vibrava anormalmente. Estava chegando a hora da eclosão da criança-luz, mas para isso, necessitava convidar os padrinhos, o cortejo que possuía os artefatos atlantes. O Atirador de Luz e o Manto das Sombras estavam de posse do casal. Faltavam o Cinturão do Poder, as Sandálias da Velocidade, o Chapéu da Fortuna e o Escudo-Espelho.

"Destino" é a palavra que sempre vinha à mente de Yaset nos últimos meses. Os atlantes acreditavam completamente no conceito de destino, mas ela aprendera que os terráqueos não tinham tanta certeza assim, divididos em diferentes crenças. "Eu mesma sou uma prova viva de que somos todos conectados a um destino. Quando nasci, as sacerdotisas previram que eu seria rainha e mãe do herdeiro de Atlântida. Agora, mesmo com tudo o que se passou, mesmo que meu lar não exista mais e todos que conheci também já tenham partido, cá estou, cumprindo meu destino. Fui rainha e sou mãe da criança iluminada, contra todas as chances".

Era comum que divagasse enquanto cuidava do ovo, tão solitária que era naquela terra estrangeira. Seus pensamentos levam-na a tomar uma decisão e a aquilina chama por Za-har para ajudá-la.

Andar pelos corredores dos palácios da alta casta atlante ainda não havia se tornado habitual para Za-har, ou Zuhur. Ele mesmo se confundia com seu próprio nome, nem mesmo sabia como se apresentar, “Za-har, O Zu-hur”, “Zu-hur, O Za-har”, ou “Zu-Hur, O Imperador”. Todas as manhãs os espelhos brilhantes no quarto submerso do atlante refletiam dois rostos dependendo da manhã. Isso tudo era estranho, mas Yaset sempre estava lá para ajuda-lo a entender isso. Dentro daquele corpo reside o espirito do homem que ela amou, mas o corpo não era o mesmo e isso afetava a relação dos dois. Enquanto Yaset carregava um filho dele e que ao mesmo tempo não é dele, os dois acabaram se transformando em grandes amigos. Ainda assim Za-har via os olhos brilhantes da regulana e imaginava sua boca tocando os lábios rosados de Yaset e sua mão viajando pela perna branca que aparece pela abertura de seu vestido.

Ao ver o sinal de Yaset informando que não conseguiria realizar a magia sozinha, Za-har toca seu ombro e concentra em formar nós mágicos para ajudá-la.

— Chega a hora de dar o próximo passo em nosso destino – diz Yaset — Temos que realizar o batismo de Ya-Bel para que ele receba os presentes destinados ao herdeiro de Atlântida e ecloda deste ovo cósmico. O primeiro passo é achar as relíquias que foram perdidas. Fique ao meu lado e me ajude caso o esforço seja demais para mim.

Colocando-se em transe no meio do Templo Atlante, Yaset concentra-se. Sua meditação invoca o mesmo ritual que fez a regulana encontrar Atlântida submersa. Seu espírito dourado deixou o corpo, mantendo apenas uma ligação por meio de um cordão de prata, vagando pelo astral, à procura dos novos portadores dos Artefatos Atlantes.

Agora que Ya-Bel tinha estava prestes a eclodir do ovo cósmico, as energias táumicas dos Artefatos Atlantes revelaram-se para Yaset. Seu espírito dourado como a luz do Sol segue o rastro da magia do Artefato mais próximo. Do meio do Oceano Ártico, entre o gelo que deriva pelas águas do Polo Norte, repousa a cidade submersa submersa de Atlântida. De lá, o espírito dourado de Yaset explode até o céu e, pairando sobre o oceano, a figura angelical sente o rastro de uma energia táumica verde. Verde é a cor do Escudo-Espelho, antigamente guardado pela Casa da Serpente, cuja base era o Jardim de Vênus. Yaset, em sua forma astral, viaja para o ponto, atravessando grande parte do Oceano Atlântico e adentro o continente sulamericano, penetrando o Brasil até encontrar seu destino no meio da Floresta Amazônica. Seus sentidos na forma astral ficam nebulosos, mas ela entende que quem quer que esteja portando o artefato tem a virtude necessária para tal honraria. O Escudo-Espelho está em boas mãos.

Puxando o fio de prata que liga seu corpo astral ao corpo físico ainda em Atlântida, Yaset desperta do transe, encontrando Za-Har, velando seu corpo enquanto cuida do ovo cósmico.

— Você está bem?

— Consegui encontrar o Escudo-Espelho da Casa de Serpente. Repousa em mãos virtuosas no meio de uma grande floresta chuvosa, quase como se fosse uma versão gigantesca do antigo Jardim Atlante. Isso me traz tranquilidade e poderemos ir até lá em paz, mas preciso continuar a busca pelos outros padrinhos.

— O portador do Escudo, quem é?

— Eu não consegui identificar exatamente se é um homem ou uma mulher. Antigamente, era um homem quem o guardava, mas agora eu senti uma energia misturada. Talvez sejam duas pessoas, não sei.

Yaset deixa o questionamento de Za-har para trás, não era hora de ocupar sua mente com aquela dúvida, de modo que tornou a se concentrar para buscar o rastro do segundo artefato. Seu espírito subiu até os céus novamente e, desta vez, percebeu o rastro azul. Seu coração se encheu de esperança, pois ela sabia que esta cor era do Chapéu da Fortuna, artefato que pertenceu a seu pai, Haermys da Casa de Águia. O espírito da regulana viaja para o leste, uma distância maior que o primeiro destino, chegando ao deserto iraquiano de Badia al-Sham. Yaset não vê um verdadeiro portador do item, ao menos, não alguém vivo. Sua forma astral consegue perceber que o Chapéu transformou-se em uma espécie de prisão, onde um fantasma terráqueo grita querendo sair. Ela não sente o espírito de seu pai, mas algo lhe diz que ele ainda existe de alguma forma. Refazendo o procedimento de puxar o cordão de prata, ela desperta esbaforida no Templo Atlante.

— Yaset! O que aconteceu?

— Não sei bem dizer, Za-har. Senti uma presença dentro do artefato, com um espírito deste plano, não o do meu pai, mas também senti um fio de esperança de que ele possa ainda existir, de alguma forma, aqui.

— Não é melhor descansar um pouco, querida?

— Ainda estou na metade de minha tarefa, devo prosseguir, mas, se eu ficar muito fraca, você poderá me ajudar.

— Sempre que precisar, estarei aqui.

— Eu sei. E sou imensamente grata por ter reencontrado meu príncipe depois de milhares de ciclos temporais. Mas devo continuar a busca, só com o encontro de todos os padrinhos, meu ovo chocará, trazendo o último regulano a este universo!

Yaset concentra-se novamente, teceu as linhas táumicas no ar, criando um desenho de um mapa do globo terrestre. No meio do continente africano, na região dos grandes lagos, um ponto laranja se acendeu. Era mais um artefato atlante, o par de Sandálias da Velocidade. Seu espírito deixou o corpo mais uma vez, vagando até o continente negro. Deparou-se com o grande Lago Nyamza e, em seu centro, uma ilha ainda desconhecida pela humanidade, de forma semelhante ao que acontece no próprio atlante em que a sacerdotisa está agora. A ilha contém um grande pasto de plantas amareladas e secas, típicas da savana, formando o lugar ideal para que o portador do artefato corresse à vontade. Yaset imagina como Argon da Casa de Touro, o antigo portador das Sandálias da Velocidade correria alegre naquele campo. A princesa regulana, no entanto, não sentiu a presença de seu amigo distante, mas conseguia sentir que seu sangue havia se mesclado aos locais, principalmente à maioria do povo. Qual foi a sua surpresa ao ver a metamorfose fantástica de um homem transformando-se em um búfalo, feições que lembravam muito Argon. Viajando entre os locais da ilha, ela encontrou uma fortificação e entendeu que ali deve se instalar a nobreza. Passou por algumas salas até encontrar o atual portador do artefato, o jovem regente sendo acariciado por várias concubinas. Ele desperta, sendo chamado para seus afazeres, mas Yaset pressente perigo, um sentimento de inveja rodeia a ilha, vindo de fora, mas a magia da princesa termina e ela acorda em Atlântida.

— Há algo errado – ela diz, quase sem fôlego.

— Descanse, mas me conte o que viu – responde Za-Har.

— Um sentimento ruim, uma maldade age contra o portador das Sandálias. Eu senti levemente uma maldade também com o portador do Escudo.

— E com o Chapéu?

— Este, não senti nada, mas entendi que o artefato não está em posse de ninguém. Talvez seja isso.

— Acho melhor você descansar um pouco, está visivelmente cansada.

— Não, só falta o Cinturão. Só mais um pouco. Se os portadores estão sendo atacados, preciso saber de todos eles. Não podem cair em mãos erradas!

— Neste caso, use minha própria energia.

— Não é necessário…

— Yaset, eu quero ser útil e sei que posso ajudar. Use a minha energia e poupe a sua. Ou descanse e deixe para concluir a busca depois.

— Está bem, Za-Har. Sente-se aqui e me dê as mãos.

Usando a energia táumica de seu esposo, Yaset tece os nós da última magia. Seu espírito vaga pelo globo uma última vez. A luz vermelha do Cinturão da Força guia a princesa regulana até a Cordilheira do Himalaia, em uma colinha específica e cônica, com uma formação que lembra uma serpente rodeando a montanha. Ali, na cabeça do dragão, um conjunto de quatro vilas cerca um grande templo com uma arena. Yaset vê como eles parecem disciplinados, buscando a perfeição do corpo e a conexão com a mente. O portador do Cinturão de Força está entre os monges, um homem alto e careca, ostentando o artefato com dignidade. Porém, a princesa sente a mesma maldade que sentiu antes, mas mais voltada para a raiva, uma vontade de brigar, de vingar, de guerrear. O sentimento ruim repele Yaset como uma contra-mágica, trazendo-a de volta a Atlântida, caindo nos braços de Za-Har.

— Yaset!

— Perigo! Todos os portadores estão em perigo! Precisamos ajudá-los! São quatro! Vamos nos dividir e resgatá-los!


Última edição por Anfitrião em Qui Ago 12, 2021 3:22 pm, editado 2 vez(es)
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MensagemAssunto: Re: Episódio 07 - Casamento do Sol e da Lua   Episódio 07 - Casamento do Sol e da Lua EmptyQui Ago 05, 2021 5:00 pm

CENA 2


Longshan, Himalaias, 1915.

Ban ressonava pacificamente em sua cama, a noite era clara e tranquila. Não fazia muito frio aquela época do ano. Em um canto do quarto estava empilhada uma grande variedade de publicações e manuscritos, uma arca com roupas e equipamentos e encostado na parede estava uma Pipa, um instrumento de cordas que Ban estava se esforçando para dominar, para a infelicidade dos outros monges. Uma coruja das neves piou ao longe, tudo parecia em seu lugar e todos os monges descansavam, bom, quase todos os monges. Dois guardas se apoiavam preguiçosamente em seus postos de vigia, o turno da noite era revezado e em duplas, sempre eram escolhidos um guerreiro experiente e um jovem acólito para formar essa dupla. O jovem se apoiava preguiçosamente em sua baqueta, lutando contra o sono, ele seria o responsável de fazer ressoar o gongo e acordar os guerreiros se algo estivesse errado. O guerreiro mais experiente observava com olhos de águia a paisagem montanhosa, a lua estava quase cheia e iluminava bem as planícies esbranquiçadas. Tudo estava calmo, calmo demais...

— Noites como essa sempre reservam surpresas – falou o monge, seu hálito condensava em uma pequena nuvem a frente de seu rosto, este estava oculto por uma máscara que cobria até seu nariz, protegendo-o do vento noturno, porém seus olhos brilhavam atentos.

— Ãhnn? Surpresas? De que tipo? – perguntou de volta o acólito, arrumando sua postura e esfregando os olhos para tentar afastar o sono.

— Do tipo que faz gelar o sangue em suas veias, cala o pio das aves e fazem as raposas fugirem assustadas para suas tocas – disse o monge, agora encarando gravemente o acólito. O jovem arregalou os olhos e deixou o queixo cair.

O homem mais velho soltou uma risada grave.

— Por isso deve se manter sempre atento meu rapaz. A segurança da vila está em suas mãos neste momento – e vendo a expressão de preocupação do jovem, deu novamente um sorriso e continuou – Sabe, isso me lembra da minha primeira excursão, mestre pretendia que… – a voz do monge travou em sua garganta, ele começou a fazer terríveis sons de engasgo e a convulsionar. O jovem se aproximou dele rapidamente e viu que a frente de sua máscara estava escura e ensopada de sangue.

O pavor se apoderou do corpo do acólito, suas mãos apertaram a baqueta e ele recuou alguns passos até esbarrar no gongo. O gongo! De súbito o jovem virou-se e fez ressoar o grande prato de bronze. Uma vez, duas, três... De repente ele paralisou, seus membros não pareciam mais obedecer, sentiu um terrível aperto na garganta, sua visão estava embaçada, antes de cair ele apenas conseguiu discernir duas formas atravessando os portões e entrando na vila.

A Colina do Dragão estava sendo invadida. Para atacar as Vilas do Dragão, seria necessário um poderoso exército, pois os monges eram guerreiros fenomenais. O que aconteceu foi exatamente o oposto. Apenas um homem encharcava-se de sangue dos dragões de todas as cores. Vestindo um traje preto e estranho, metálico, mas visivelmente orgânico, encarou os adversários e se fez reconhecido, Ji, o desonrado.

— Fui humilhado enquanto estive aqui. Massacrado, torturado e abusado. Longshan não existirá mais depois que eu passar por ela.

Ban se levantou assustado, ele tinha pensado que havia escutado o gongo, porém tinha certeza dos gritos que cortavam a noite. Ele rapidamente cobriu seu torso com um Kimono e saiu em direção a confusão. O que viu era inacreditável, um morto e um desaparecido, mas estavam ali, cercados de sangue e com ódio brilhando em seus olhos. Diversos monges seguem atacando, mas Shang, do clã da água, usava seus poderes sobre o sangue para imobilizá-los. Pensava-se que ele havia morrido, apesar de nunca se saber a causa da morte, pois seu corpo foi encontrado sem qualquer vestígio de violência. Teve um enterro digno, o que levava a crer que aquele era um morto-vivo.

— Desafio o Dragão Campeão para lutar contra a queda de Longshan. Quem é ele? Diwu? Ou Ban conseguiu vencê-lo? Não importa. Ambos encontrarão a morte hoje.

Ban não hesitou, partiu para cima daquele que já foi seu adversário no torneio do dragão, mas agora tudo estava diferente.

Shang era mais perigoso, pois, controlando o sangue dos outros monges, impedia-os de se movimentar. Vencê-lo, traria seus aliados de volta e uma multidão de lutadores daria cabo de Ji. O renegado voltou-se ao campeão Diwu, um dragão preto contra um dragão colorido e um dragão vermelho contra um dragão verde.

O monge do relâmpago começa com uma ofensiva forte, pegando Shang desprevenido com uma voadora e derrubando o dragão invasor. Caído, o dragão verde vê o pé de Ban descendente em seu rosto, mas, com um gesto rápido, bloqueia-o com as duas mãos, torcendo o pé do dragão vermelho, que salta desvencilhando-se do agarrão. Shang levanta-se, assumindo uma posição de ataque, enquanto Ban mantém-se distante.
Ban corre em direção ao seu oponente, forçando Shang a assumir uma posição defensiva, mas para o movimento ao ver que seu ataque seria infrutífero. Irado com a brincadeira do dragão vermelho, Shang cospe sua saliva ácida, atingindo o peito de Ban e provocando uma queimadura, fazendo com que ele se despisse do kimono. Aproveitando este ato, Shang avança com um chute aéreo, mas Ban usa seu kimono estragado para bloquear o ataque do adversário.

Em combate próximo, Ban beneficia-se da proximidade com Shang para eletrificar seus punhos e desferir uma sequência de poderosos socos. A corrente elétrica percorre o corpo de Shang, forçando-o a recuar e tomar fôlego para prosseguir. Do mesmo modo, Ban tentava manter-se de pé devido ao desgaste do poder do relâmpago. Respirando, ainda enfraquecido pelo ataque elétrico, Shang cospe mais uma vez, atingindo a mão de Ban e provocando uma queimadura tão dolorida que faz o dragão vermelho recuar.

A luta entre o dragão vermelho e o dragão verde não teve vencedores, ambos estavam feridos, mas ainda conscientes. Enquanto isso, Ji lutava desafiava Diwu. O foragido dá um sorriso de escárnio enquanto lambe o sangue em seu dedo, contemplando suas vítimas. Quando Diwu surge ele faz uma pose sugestiva e lhe manda um beijinho. Ele e o campeão se entreolham, para Ji, vencer Diwu significava que estava certo, toda sua vida dedicada a uma tradição tola de lutas, tendo perdido o Torneio do Dragão e retornado mais forte. Vencer o campeão significaria vencer toda Longshan.

— Ainda balançando o rabinho que nem cachorrinho pros anciões... Você não tem opinião própria? – Ji usa a cabeça de um monge como fantoche enquanto provoca Diwu com uma vozinha irritante.

Diwu sente vergonha de ter considerado Ji um irmão. Para ele, todos os monges eram irmãos e constituíam uma grande família, mas, agora, o foragido trazia morte e desonra para toda a Colina do Dragão. Ele avança com passos decididos e, usando seu poder do ar para se aproximar velozmente, desfere um soco potente que desfaz o sorriso de Ji. Pego desprevinido, o antigo dragão amarelo recua escondendo o rosto e limpando o sangue de sua boca, enquanto Diwu apenas o encarava com desprezo.

— Bate mais forte! Cadê a força do campeão?!

A provocação de Ji tem efeito e Diwu acelera mais uma vez, mas, agora, Ji estava preparado e todos os socos, embora rápidos pelo poder do ar, são bloqueados com os antebraços reformados pela estranha bioarmadura que o foragido havia conquistado.

— Ah, não mencionei o meu presente, não é mesmo? Esta belezinha – Ji exibe a armadura orgulhosamente — é feita com um material orgânico especial, uma oferta de quem me resgatou quando tive de fugir de Longshan, quando tive de, mais uma vez, fugir na vida.

— Você havia se mostrado desrespeitoso, Ji, e devia pagar pelo desonra que praticou. Agora, tornou-se um monstro, trazendo mais desgraça ainda para nossa terra. Eu não vou te perdoar, dragão caído.

As palavras de Diwu, de alguma forma, mexem com a cabeça de Ji, mas ele muda sua postura e avança. De seus antebraços recobertos pela bioarmadura, duas afiadas lâminas saltam. O material parecia uma espécie de metal, mas também aparentava ser orgânico, diferente do metal que seu antigo clã tinha afinidade. Com grande velocidade, o dragão caído salta para um combate corpo-a-corpo, desferindo golpes que rasgavam o ar com suas lâminas. Não fosse a agilidade de Diwu, as lâminas negras rasgariam a sua pele. Ji parecia tomado por uma forma de fúria e a expressão de seu rosto lhe deixava irreconhecível. A fúria de Ji não cessa e ele continua mirando os pontos vitais de Diwu. Se os acertasse, facilmente liquidaria o campeão de Longshan. Porém, assim como Ji, Diwu poderia invocar uma armadura defensiva e, usando seu poder sobre a terra, fez com que uma crosta de rocha recobrisse sua pele. Embora os golpes de Ji agora acertassem Diwu, eram inúteis. Percebendo que sua estratégia de fúria cega não tinha êxito, recuou por um instante, dando tempo para que Diwu, invocando chamas com seu poder de fogo, lhe atirasse um jato flamejante, mas a bioarmadura de Ji era suficientemente poderosa para resistir àquele ataque.

— Eu quero ver você jorrar sangue, Diwu!

O dragão caído foca única e exclusivamente em derrubar o oponente. Com uma rasteira, Ji tenta seu feito, mas o poder de água de Diwu torna o chão escorregadio e deslizante, fazendo com que o ataque jogasse Ji longe. Ele não se dá por vencido e salta sobre o corpanzil do campeão. Desferindo socos selvagens e constantes contra a cabeça protegida por pedra de Diwu, mas sem efeito e apenas cansando o dragão caído. Embora exausto, Ji sente prazer naquele frenesi de golpes e é tomado novamente pela fúria assassina. Percebendo o estado alterado de Ji, Diwu reforça suas defesas pétreas, praticamente se transformando em um monólito vivo, mas o foragido não parava por nada, exceto a completa exaustão e quando seus punhos começaram a sangrar, formando uma poça de sangue.

***

Wanyama, Lago Nyamza, 1915.

Como príncipe herdeiro, Kitok ainda precisaria se casar para obter o título de rei, embora já fosse o regente, na prática, pois não havia superior a ele. Desde que seu pai levou sua irmã e os comparsas dela para o exílio, não teve mais notícias de ninguém. De certa forma o reinado de Kitok fluía bem. Sua maior luta era com a luxúria, pois era de extrema dificuldade para ele escolher apenas uma esposa. Durante este tempo, gozando da vida de realeza, o jovem kucha teve várias concubinas, trocando de companheira quando o relacionamento caminhava para uma união de verdade. Talvez tivesse medo do título de rei ou talvez fosse parte de sua personalidade não se apegar a ninguém. Argh e Jakku continuavam como seus leais generais extraoficiais. O menino sendo tratado como convidado e o nômade sendo reconhecido como líder dos mercadores de Wanyama, mas que tinha como objetivo secreto colher informações sobre Mfalme e Nefret, nunca obtendo sucesso.

O dia de Kitok já nascia de forma estranha quando ele observa em sua cama apenas uma acompanhante, que dormia nua, parcialmente coberta pelos lençóis do rei. O Kucha sentia que todo seu vigor sexual não havia sido explorado da maneira que sempre gosta e, incomodado por não lembrar do fato de ter apenas uma cortesã, colocava sua roupa, aos fundos, aumentando de forma estridente e animada, ouvia os balbucios do menino Argh.

Em mais uma de suas voltas a Ilha dos Ferais, uma das caravanas de Jakku se aproximava da margem. Acompanhando seus leais amigos, Kitok observa a caravana ao longe. Alguns arrepios que iniciavam no meio das costas e subiam até a nuca, faziam os pelos do rei arrepiarem. Algo não estava correto.

— Jakku! Se meus olhos não mentem, sua caravana esta retornando com um camelo a mais de quando partiram! Disse ele concentrado e de expressão cerrada.

— Tem razão. Devem ter precisado de mais um por causa da carga. Vou verificar – Responde o grandalhão.

Argh fazia conta nos dedos e enfileirava pedrinhas no chão para acertar a conta, intrigado.

Quando a caravana se aproxima a surpresa é imediata. Nefret, sua irmã, salta ameaçadora do lombo do primeiro camelo, seguida de seus vassalos e um forasteiro. A presença do estrangeiro irrita Kitok profundamente. Jakku rapidamente reconhece o caçador.

— VOCÊ!? – Jakku estava pronto para assumir sua forma feral. Argh logo troca as pedrinhas por pedras maiores.

Antes de qualquer fala Kitok usa o poder de velocidade das suas sandálias para atacar Tyler, agarrando-o pelo pescoço e o afastando do grupo. Tudo isso em um movimento rápido e ameaçando-o com uma adaga.

— Nefret! Você não é bem vinda aqui. Muito menos você estrangeiro — Kitok fita Tyler com olhar raivoso.

— Agora que nosso pai não rege mais Wanyama e, pelo que meu leal servo, Tai, tem me contado, você ainda não se casou, o trono está vago e eu vim aqui para tomá-lo. Uma revanche. Fui escorraçada anos atrás, pois travei uma luta injusta. Você calçava essas sandálias enquanto eu usava somente meu corpo. Agora, a luta está equilibrada.

Uma couraça queratinosa reveste o corpo de Nefret como se fosse uma carapaça de inseto. Sua cauda também recebe o mesmo revestimento, transformando-se numa enorme cauda de escorpião, com um grande ferrão na ponta.

— Assim como você, recebi um presente do meu amigo estrangeiro. Em troca, revelei a localização de Wanyama, nação que se abrirá ao mundo exterior e terá meu amigo como embaixador.

Nefret sequer dá tempo para que Kitok respondesse e salta em sua direção, mas Kitok, irado com a provocação de sua irmã e enojado com aquilo que se ela se tornou, ataca simultaneamente. O kucha avança com sua adaga em punho, apunhalando com tanta força na bioarmadura de Nefret, que abre um rombo em sua coxa, mas a acólita do abismo nem sente, tamanha a ira dela, e, com suas garras mais afiadas ainda com a queratina extra em seu corpo, rasga o peito de seu irmão. Os dois se engalfinham numa luta que parecia sincronizada, a mão de Kitok segurando o punho de sua irmã e a sua adaga sendo aparada pelo braço queratinoso de Nefret. Com um empurrão no braço armado de Kitok, Nefrete faz a adaga voar longe, desarmando-o, ao mesmo tempo em que usa o ferrão de sua cauda para ferir as costas de seu irmão.

Enquanto isso, Jakku assume sua forma animal e avança sobre Tyler, o humano que o caçava anos atrás, então que fosse derrotado naquela forma, mas foi interrompido por Kuo. O crocodilo queria uma revanche. Lutaram no dia em que Nefret foi exilada e, desde então, o feral nutre um sentimento contra o agora líder dos comerciantes. O crocodilo, diferente de Nefret, não havia ganhado poder e continuava sendo o mesmo guerreiro que foi anos antes. Sua forma feral, de um crocodilo bípede de quase dois metros de altura, tem uma bocarra com mais de um metro de tamanho. Com arma tão poderosa, ele agarra o rinoceronte pelas costas e o morde no dorso, mas esta é a parte mais resistente da forma animal de Jakku, um verdadeiro tanque. A couraça grossa faz com que o feral perca alguns dentes, dando a Jakku a chance de se livrar e avaliar o próximo passo de seu adversário. Ganhando distância suficiente, o rinoceronte avança em carga sobre Kuo, seu chifre mirando o ventre o feral. O crocodilo, porém, é tão forte quanto Jakku e consegue segurar-se no chifre, sendo arrastado pela força do rinoceronte para longe de seu protegido, Argh.

Ao garoto restou enfrentar o abutre Tai. O adversário alçou voo, mantendo-se distante do menino, mas focando em seu corpo pequeno. Com um rasante veloz, Tai acelera com as garras dos pés na intenção de capturar Argh, que salta e se movimenta de forma ágil, esquivando-se do primeiro ataque. Porém, sua munição é derrubada no rasante, fazendo com que o garoto perdesse precioso tempo tentando recuperar as pedrinhas que usa para arremessar. Isto dá vantagem para Tai que, num segundo rasante, rasga as costas de Argh com suas garras afiadas. Conseguindo reaver a maioria de sua munição, mas sofrendo com o corte, o garoto espera o terceiro movimento do abutre. Sua estratégia é repetitiva e Argh salta para os galhos de uma árvore, usando a vegetação como escudo.

De volta ao duelo dos irmãos, Nefret avança mais uma vez com suas garras queratinosas, mas Kitok bloqueia com seus antebraços e salta para trás, afastando e assumindo sua forma feral. Como um guepardo, Kitok é mais ágil, mas mesmo os repetidos golpes violentos que ele desfere contra sua irmã são inúteis devido à couraça que protege Nefret. Vários golpes seguidos cansam Kitok, roubando-lhe o fôlego, mas sua irmã não dá trégua e suas garras encontram mais uma vez o peito do herdeiro de Wanyama.

Diante do chifre de Jakku, Kuo aproveita para agarrar-se ao focinho do rinoceronte e usar sua cauda como um poderoso porrete. Jakku recebe o primeiro golpe e usa as poderosas patas do rinoceronte para se erguer e derrubar o crocodilo. Kuo cai diante de Jakku e, assim que o rinoceronte solta todo seu peso sobre o crocodilo, o feral segura as patas do animal em pleno ar, como se estivessem dançando. O rinoceronte desvencilha-se das garras do feral, que salta esperando um ataque de oportunidade, mas o animal apenas ganha distância.

A árvore que Argh usa de abrigo serve perfeitamente de escudo, pois Tai não consegue penetrar na copa com o tamanho de suas asas. O abutre voa ao redor da árvore, de olho em sua presa, mas a copa fechada serve como um esconderijo perfeito para o pequeno humano, que espreita, esperando um deslize do homem-pássaro. Os movimentos do garoto por entre os galhos confundem o abutre, forçando-o a se aproximar da árvore, exatamente o que Argh planejava. Com a distância menor, Tai entra na linha de tiro do rapaz. O problema é que o abutre está esperto e se esquiva com maestria do arremesso. Agora, diante da localização do garoto, Tai avança com tudo por entre os galhos, apenas para que Argh deixe o esconderijo e alcance o chão.

O garoto corre, fazendo caretas e chamando a atenção de seu predador, mas o instinto de Tai lhe diz para não ir. Ele abre as asas e ensaia um rasante, mas desiste na última hora, apenas para se mostrar certo, afinal, atrás do menino, havia um espinheiro, onde provavelmente iria se enroscar e virar um alvo fácil. Irado com seu plano infrutífero, Argh colhe um galho do espinheiro e tenta alcançar Tai no alto, mirando sua barriga, mas o abutre apenas ganha altura e observa de longe. Esperando um contra ataque, Argh foge para dentro de uma vala, enquanto Tai apenas o observa de longe, estava cansado do jogo de gato e rato, preferindo observar a luta de seu companheiro, já que Argh não representa perigo.

O rinoceronte mantém-se distante, esperando que o crocodilo o perseguisse, mas o réptil continuou parado. Intrigado, Jakku também para e apenas observa, percebe o adversário cansado, tinha dado tudo de si até então.

— É sua última chance, Kuo. Já o venci uma vez e o farei novamente. Renda-se!

Kuo observa Tai no alto, o fofoqueiro certamente comentaria sobre a desistência do crocodilo para a líder, Nefret. Ele já estava cansado, mas não poderia se dar por vencido. Nefret é sua musa, sua inspiração, a razão de seu viver e não poderia falhar mais uma vez. Franzindo seu rosto, que adotou contornos raivosos e bestiais, Kuo encara Jakku nos olhos.

— Nunca irei me render! Por Nefret!

Jakku volta a usar seu ataque de carga. Com um impulso forte, usando as patas traseiras como arranque, o rinoceronte avança com força e velocidade. Kuo, cansado e ferido, não tem sequer forças para sair da frente e vê o poderoso chifre de Jakku cravar-se em seu abdômen. O sangue do crocodilo se esvai pela margem do Lago Nyanza, tingindo o solo de vermelho. A última coisa que Kuo vê é sua amada Nefret.

O combate é acirrado entre os irmãos. Garras de queratinas cruzam-se com as garras do guepardo dourado, fazendo arcos que continuam suas trajetórias com rastros de sangue. Por mais que a bioarmadura de queratina a protegesse, as garras encantadas de Kitok deixam sulcos na proteção, assim como as garras queratinosas penetram a pelagem protegida do feral guepardo. Nefret havia se transformado numa máquina de matar, seu instinto assassino não freava e isso assusta Kitok. Com uma série de ataques múltiplos e furiosos Nefret não cessa enquanto não visse seu irmão morto, ele, por sua vez, ao perceber a intenção da exilada, usa a velocidade das sandálias para se afastar o suficiente para um último ataque. Com sua velocidade sobrenatural, Kitok salta sobre o corpo de Nefret, cravando as garras encantadas no peito da irmã. Ela, como reflexo, crava suas próprias garras nas costelas de Kitok. Ambos se encaram, cansados, mas Kitok está nitidamente mais ferido.

***

Warábia, Penísula Arábica, 1915.

Os gritos de Dastan ecoam pelo calabouço. Anton Schultz em pessoa torturava-o para quebrar sua vontade. O iluminado, com o conhecimento de Kohukohu, estava de posse de um estranho ovo com seis olhos. Quatro deles já foram abertos, olhos que pertenciam ao explorador inglês e ao invasor de tumbas. Restavam apenas os olhos castanho-escuros de Dastan. O nômade se contorcia, cedendo ao tormento infligido, seus olhos pararam nas órbitas do ovo e suas próprias órbitas ficaram vazias, deixando o corpo sem controle à mercê das magias de Schultz. Seus segredos agora eram do iluminado e não demorou tempo até que ele soubesse a localização do templo onde estava Lahyla, organizando uma comitiva chefiada por Roderick, para fazer cativa a dançarina das estrelas e se apoderar do Chapéu da Fortuna.

A feiticeira, a muito custo, escavava as ruínas do templo. Havia se passado tempo suficiente para limpar grande parte dos escombros e ela sentia que estava próxima à câmara subterrânea onde deveria estar o artefato. Escondeu-se quando viu uma caravana se aproximando, mas suspirou aliviada quando reconheceu Dastan. Sua alegria, porém, desapareceu assim que percebeu que Dastan usava uma armadura estranha.

— É uma bioarmadura dos Ovos do Abismo, Lahyla – sussurrou Hærmys em seu ouvido – Quem quer que sejam, não podem se apoderar do Chapéu da Fortuna. Prepare-se!
Lahyla não teve um minuto de paz desde que perdeu o chapéu. Sempre pensando no artefato perdido, mas, no fundo, o que ela sabe que perdeu foi a companhia de seu amigo Dastan. Aquele que por várias vezes a salvou em tão breve tempo que passaram juntos. Por isso, a feiticeira ficou tão surpresa ao rever Dastan. Ao perceber que ele usava a bioarmadura do Abismo, ela sentiu que Dastan partiu para não mais voltar.

Vê-lo ao lado de Roderick fez suas estranhas se revirarem de forma que seu companheiro espiritual percebeu o ódio que ela sentia dele. Os homens que estavam usando o seu amigo precisavam ser detidos. Roderick precisava ser detido e Lahyla precisava da certeza de sua morte para dormir tranquila novamente. Com sangue nos olhos, ela parte para cima de seu algoz e com espada em punho chama-o para o combate.

— Roderick, seu monstro, não irei perdoar toda a atrocidade que fez comigo e agora com meu amigo Dastan. Você não viverá para por as suas patas imundas no artefato sagrado.

Roderick ri, ele despreza a dançarina como despreza todas as mulheres. Acha graça quando Lahyla inicia sua dança.

— É assim que acha que vai me vencer? Requebrando os quadris para chamar minha atenção? Você só terá a atenção disso aqui – zombou enquanto segurava suas partes — A única coisa que conseguirá será me excitar. Usarei você e depois a degolarei, cadela imunda!

A dança de Lahyla, porém, é focada em suas capacidades de combate. Como uma magia, os passos ritmados tecem energia táumica ao seu redor. Se Roderick conseguisse ver isso, saberia que ela usava este recursos para ficar mais ágil, mais poderosa. Quando seu adversário finalmente se aproxima, ela está totalmente carregada com a energia de sua dança, seus atributos físicos aumentados, mais mortífera em combate. Mais ágil, ela vai com tudo nesse combate e age primeiro. Sacando sua espada quase como se estivesse graciosamente dançando, desfere um golpe que, por pouco, é evitado numa esquiva do americano, mas ela não cessa. Percebendo a ferocidade e a habilidade da dançarina, Roderick finalmente entende que aquela era uma adversária à altura e, quando desfere o segundo golpe, ele saca sua pistola e atira. A lâmina de Lahyla corta sua perna, mas seu disparo atinge as costelas da dançarina. dois ataques seguidos contra seu oponente.

— Essa será a última vez que você me verá dançar!

— Desgraçada!

Roderick toma distância. Com sua pistola, teria alguma vantagem num combate à distância. Ele atira,mas Lahyla toma uma postura defensiva, atenta aos passos de seu adversário, saltando no exato momento em que o americano dispara.

— Vou te transformar em uma peneira!

Lahyla não se intimida. Embora uma lâmina contra uma arma de fogo pudesse deixá-la em desvantagem, ela tem ódio como combustível. As lembranças de seu amigo Dastan enchem sua memória e vê-lo transformado em uma aberração era o suficiente para que ela buscasse vingança contra aquele homem. Saltando e correndo na direção de Roderick, ela é atingida por outro disparo, mas chega perto o suficiente para acertar uma estocada no abdômen do mercenário. O movimento rápido de retirada da lâmina produz um rastro de sangue na areia dourada sob os pés dos combatentes. O movimento inverso, de mais uma estocada, fere outra vez o ventre de Roderick e a proximidade da pistola com o corpo de Lahyla faz com que ela receba um tiro à queima-roupa.

Ambos se afastam, sangrando tanto que os rastros deixados na areia formam um desenho macabro. Lahyla se recompõe, invocando a energia táumica da Dança das Estrelas sobre seu corpo mais uma vez. Roderick se afasta, procurando abrigo e ficar longe do alcance da lâmina da dançarina.

— Infeliz! Mulher nenhuma vai me matar…

Recomposta, Lahyla avança mais uma vez, estocando a panturrilha de Roderick enquanto ele escala um pequeno barranco. Do alto, ele dispara novamente contra Lahyla, mas sua dança havia lhe conferido chances de defesa. Em cima, Roderick tenta conter o sangramento, fazendo Lahyla perceber que havia vencido aquela batalha, mas o sorriso debochado do americano lhe alerta do contrário. Virando-se na direção para onde ele olhava, Lahyla vê seu antigo aliado recoberto com a bioarmadura do Abismo. Diversos olhos brotam de pontos estratégicos no corpo, mas os mais perigosos estão nas palmas das mãos. Dastan abre as mãos na direção de Lahyla, olhos vermelhos incandescentes se abrem, como se fossem atirar uma rajada de calor.

***

Yaci-Taperê, Floresta Amazônica, 1915.

Tayná havia mudado muito desde que sofreu a derrota nas mãos de Werena. Amargurada, ressentida e reservada, a arqueira passava mais tempo com Maya, a prisioneira. Aos poucos, a cativa encontrou abertura para que a arqueira contasse suas frustrações. Isto deu início a um relacionamento entre as duas, em pouco tempo, Maya já entendia a cabeça de Tayná e a manipulava pouco a pouco. Ouvia os desabafos da amazona e contava sua própria história para a, agora, amiga. De como foi recrutada por um mago estrangeiro que lhe enviou com a missão de pegar o Escudo-Espelho e que recebia poderes dele. A revelação acendeu o orgulho de Tayná, poderia vingar as amazonas matando o mandante responsável pela morte de Mayara. A prisioneira a convenceu que tinha mudado de lado, que era outra pessoa e tinha sentimentos pela arqueira. Tayná fugiu de Yaci-Taperê, levando Maya consigo. Travaram contato com Anton Schultz, mas sucumbiu ao poder dele. Em vez de ser mais uma vítima, tornou-se uma campeã, uma Acólita do Abismo, recebendo a Máscara de Sucubus e se transformando num demônio abissal, assumindo a missão que havia sido designada a Maya.

Depois de sua incursão contra os contrabandistas, Werena espoliou o que lhe parecia útil e distribuiu numa aldeia próxima. Desde que assumira o Escudo se importava muito com Yaci-Taperê, mas também cuidava das aldeias ao redor fazendo visitas constantes e auxiliando as mulheres que podia. Criaria uma rede de apoio entre as ribeirinhas e espalhava histórias de suas ancestrais para manter a cultura das amazonas vivas no imaginário do povo.

Quando seu corpo assumia a forma de rapaz caçava adversários, os provocando, seduzindo e confundindo, deixando todos aterrorizados enquanto brincava com os homens e passando mais tempo longe de Yaci-Taperê. Mas quando seu corpo sintonizava como mulher, tentava resolver de forma mais assertiva o possível para poder retornar para suas irmãs e cumprir seus deveres espirituais e praticar a comunhão entre suas iguais. Agora, ela voltava com um sorriso, mais uma missão cumprida e pensava na festa que teriam à noite para comemorar a primeira menstruação de uma das pequenas. Quando a nova Icamiaba chegou a Yaci-Taperê, não acreditou no que viu. Algo havia atacado a aldeia amazona, suas irmãs estavam inconscientes, com diversas vinhas ao redor do corpo, fazendo com que fossem prisioneiras. Entrando devagar no que restou da aldeia, Werena caminha até o centro do povoado. E então o pavor assume sua feição e seus músculos travam de tensão, uma voz familiar faz seu coração se inflamar.

— Eu voltei, irmã – diz Tayná – Em uma nova forma e mais poderosa. Hoje, eu agradeço a você por ter me derrotado, pois não teria estes poderes agora. Mas eu preciso dominar você, Werena. Pagará pela humilhação que me fez sofrer.

— Werena choraria pela decadência profunda que você alcançou, mas a Icamiaba apenas sente desprezo por essa tola que teve a ousadia de macular esse santuário - Respondendo de forma altiva e uma feição dura ela posiciona o escudo a sua frente e seus cabelos começam a flutuar.

— Vejo que agora está mais pretensiosa que de costume, “irmã”. Até falando de si, usando seu novo título está. Isso só prova o quanto é indigna.

Tayná invoca sua bioarmadura. Um par de asas feitos de uma espécie de metal orgânico e oleoso brotam de suas costas e se prepara para alçar voo em direção à Werena. A nova Icamiaba sequer se mexe, invocando as energias táumicas conhecidas pelas sacerdotisas amazônidas. Diferente das outras magias conjuradas por ela, essa não emitia brilho algum, suas órbitas ficavam negras como noite sem luar, com uma mão ela desenha um círculo sobre sua cabeça e então uma sequência de meias luas como se as arremessasse na direção da traidora. Pontos negros se materializam depois de acumulada a energia taumática necessária criando um portal que sugaria a acólica do abismo.

— A lua te gestou, e a lua será seu cativeiro, será banida pro lado escuro para se arrepender do que tem feito.

Os pontos escuros se acumulam ao redor de Thayná e sua imagem começa a sumir da vista, a luz abandona seu corpo até sumir completamente.

— Não! Não! Não! Eu estou poderosa agora! Posso te derrotaaaarrr...

Uma coruja sobrevoa a direção piando onde uma vez esteve o corpo da amazona traidora. A icamiaba então se volta para a segunda adversária empunhando seu escudo e freneticamente observando as irmãs presas, torcia para que se libertassem sem a influência da Acólica.

— Agora fud… Não sei o que você fez com a pequena, amazona, mas vou fazer você trazê-la de volta!
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MensagemAssunto: Re: Episódio 07 - Casamento do Sol e da Lua   Episódio 07 - Casamento do Sol e da Lua EmptyQua Ago 18, 2021 1:28 pm

CENA 3


Atlântida, Polo Norte, 1915.

— Perigo! Todos os portadores estão em perigo! Precisamos ajudá-los! São quatro! Vamos nos dividir e resgatá-los!

Yaset grita para Zahar, mas nem ela sabia como eles dois podiam salvar o dobro de pessoas. Não daria tempo de pedir reforços dos atlantes, tinham que tomar a decisão e agir rápido.

— O monge disciplinado e os dois portadores do escudo devem conseguir resistir algum tempo. Você deve salvar o rei que não sabe que está em perigo.

Aflita pela urgência da situação, Yaset tenta se concentrar e abrir um portal para permitir a passagem de Za-har para a África, esperando que ele chegue a tempo de ajudar o jovem portador das sandálias.

Sem perder tempo, ela começa a tecer os nós para ir atrás do Chapéu da Fortuna. Havia sentido que o artefato estava sem dono, isso podia significar que o portador já havia caído e alguém precisava recuperar o item. No fundo de seu coração, Yaset esperava descobrir algo sobre o destino de seu pai. Nessa nova era, precisaria mais do que nunca do conselheiro de Atlântida.

Ao chegar à Peninsula Warábica, Yaset se depara com um combate covarde, onde dois homens atacavam uma espadachim que estava cercada. Um dos homens usava uma armadura que a princesa Atlante reconhece como uma obra lemuriana, devido à sua semelhança com as máscaras que haviam corrompido seus padrinhos de casamento. O outro estava escondido, aparentemente ferido.

O olho da mão de Dastan se abre, as veias da palma e tubos na armadura brilham incandescente. A íris fica de um vermelho muito intenso e Lahyla, paralisada, sem saber como enfrentar aquela criatura que um dia foi seu amigo, vê um portal se abrir atrás dele. Uma figura angelical sai da passagem, mas, rapidamente, veste um capuz e se torna invisível. A dançarina das estrelas espera pelo pior, quando Dastan é erguido pelo ar por Yaset tomada por ódio contra a imundice lemuriana.Ela ganha altura e o solta.

Surpreendido, a queda provoca ferimentos em Dastan, que rola pelo chão, procurando se defender do que quer que o tenha atacado. Yaset se revela, tocando os pés no chão, apenas para ganhar impulso e dar um rasante tentando acertar um chute em seu rosto, mas, agora prevenido, Dastan bloqueia com sua armadura.

Todos os olhos de Dastan se arregalaram, como se reconhecessem Yaset de estranhos pesadelos. Do alto de seu esconderijo, Roderick não acredita no que vê, mas também não pretende entender o que está acontecendo e começa a se arrastar para longe.

Os olhos de Dastan encaram Yaset como o pior inimigo que poderiam encontrar e avançam sobre a regulana. Yaset, já mais calma, adota uma posição mais defensiva e estratégica. Quando Dastan se aproxima em combate corpo-a-corpo, ela alça voo, saindo do alcance de seu adversário, pairando sobre o cenário e ficando atenta aos detalhes. Ela vê Roderick procurando fugir, assim como Lahyla boquiaberta com a luta que assiste.

— Você sabe onde está o Chapéu da Fortuna?

Lahyla apenas responde que sim com a cabeça e aponta na direção das ruínas. Dastan, esperando um segundo voo rasante, mantém defensivo, os nervos óticos que revestem a bioarmadura pulsando. Ele mira seus olhos palmares para a figura alada, disparando uma rajada de energia táumica. Hábil em seu movimento aéreo, Yaset desvia-se dos raios. Atraindo a atenção do acólito para longe de Lahyla e perto das ruínas.

Ela pousa mais uma vez, fazendo com que Dastan a seguisse, apenas para se esquivar ganhando altura mais uma vez. Esperando o rasante de Yaset, Dastan rola pela areia, mas uma coisa chama atenção de Yaset que veste o capuz mais uma vez, mas tornando-se intangível, e voa em direção ao acólito, atravessando-o e penetrando no solo. Seu adversário a segue, cavando o chão, mas Yaset pode atravessar objetos sólidos e consegue chegar aos escombros da tumba que guardava o Chapéu da Fortuna. A princesa regulana apanha-o facilmente e, ainda intangível, “brota” nos pés de Lahyla.

— Não tenha medo, despistei seu inimigo, mas ele é uma criatura perigosa, por isso, peço que me acompanhe.

— Eu irei… minha filha – Lahyla fala com a voz de Haermys.

Yaset não o reconhece de imediato, apenas segura a dançarina pelo braço e atravessa o portal para Atlântida, fechando-o em seguida.

***

Longshan, Himalaias, 1915.


Ji desfaleceu diante de Diwu, o campeão dos dragões havia derrotado o traidor, mas ainda havia outro, Shang, que lutava arduamente com Ban. O dragão vermelho cambaleava frente ao seu oponente, aquele embate estava muito mais difícil que nas arenas, havia muito mais em jogo.

O jovem dragão circula então seu oponente, estava tentando ganhar um pouco de tempo para que pudesse construir uma estratégia em sua cabeça. Seu peito doía muito, vapores ácidos exalavam dos restos de seu Kimono. Ban sentia que sua respiração estava pesada e que seus membros estavam levemente adormecidos, teria que acabar com aquela luta logo se quisesse ter alguma esperança de salvar Longshan.

Ban sorriu para o dragão verde, queria desestabilizá-lo, sabia que o insurgente era instável emocionalmente e já o havia derrotado uma vez, sabia que conseguiria novamente.

— Deveria se envergonhar, Shang... Mesmo se aliando a poderes obscuros você continua um merdinha! – o dragão vermelho parte para cima de seu oponente com muito vigor, mal dando tempo para Shang raciocinar direito.

Os punhos do monge vermelho encontram os braços de Shang, o traidor estava nervoso, sem parceiro havia sido derrotado e agora precisava vencer os dois finalistas do último Torneio do Dragão e estava, mais uma vez, perdendo para Ban. Shang só se defendia, pensando numa maneira de derrotar o adversário.

Quando finalmente conseguiu contra-atacar a sequência de golpes de Ban, o dragão vermelho estava preparado e esquivou o punho do monge verde. ambos se encararam e se acertaram mutuamente, como se fossem reflexos de um espelho. Energias obscuras rodearam Shang, que usava uma técnica proibida, mas que Ban sabia do que era capaz. Reunindo chi, a aura de Shang transformou de dragão para vampiro, em vez de expelir o chi como uma rajada de ácido, o dragão verde sugava o chi de Ban, para si mesmo, fortalecendo-se. O dragão vermelho sente-se mais fraco, mas ainda havia chi em seu corpo.

Ban sabia que Shang iria expelir o chi sugado em um ataque elemental e quis anular seus ataques de ácido com uma sequência poderosa de golpes, principalmente socos no rosto. Mesmo que tenha acertado o golpe, a proximidade com a boca de Shang fez com que o ácido queimasse sua mão. Concentrando o chi em seu punho, descargas elétricas usaram o ácido como condutor, eletrocutando a face de Shang, ainda molhada devido ao golpe em sua boca, que o havia sujado com sua própria saliva ácida.

Cambaleante, Shang tentou um último golpe, mas Ban apenas deu um passo para o lado, fazendo com que o dragão verde caísse desfalecido.

— Você lutou bem, Ban. Se o Cinturão do Dragão não estivesse comigo, estaria em boas mãos com você – parabenizou Diwu.

***

Yaci-Taperê, Amazônia, 1915.

Tayná havia sido lançada ao lado oculto do Plano Lunar, sua presença não era mais sentida na Terra. Em meio à escuridão absoluta, a antiga arqueira amazona tateia cegamente tentando saber onde se encontra e como voltar a Yaci-Taperê.

— Agora fud… Não sei o que você fez com a pequena, amazona, mas vou fazer você trazê-la de volta!

— Ela retornou para o ventre lunar, cabe a lua pari-la de novo. O que cabe a mim é eliminar ameaças a Yaci-Taperê!

Werena avança sem pestanejar. Próxima de Maya, ela mantém a postura firme e, com a lateral de seu escudo, desfere um ataque carregado de cólera mirando no rosto da invasora. Maya segura o Escudo-Espelho tentando arrancá-lo de Werena. A amazona percebe o quão forte é a mão da invasora. Com um puxavante, a sacerdotisa se desvencilha, afastando-se alguns metros. Tinha colocado tanto ímpeto que sequer avaliou a situação antes de partir para o ataque. Ainda torcia para suas irmãs se libertassem das vinhas e viessem ao seu auxílio, mas, agora, era a Icamiaba que deveria cumprir seu dever de zelar pelas amazonas. Sua súplica às irmãs fez com que baixasse a guarda, dando a chance de Maya acerta-lhe em cheio um soco.

— Foi por uma criatura tão patética que Tayná traiu nossa civilização? Encare seu destino invasora, você não é nada perante o legado das Amazonas!

— Patética? Eu? Uma travesti dessas não pode chamar ninguém de patética! Irei vencer você e arrancar esse seu pintinho que você chama de clitóris!

Werena provoca Maya, manipulando-a para que a atacasse. O que sua adversária não esperava era o poder secreto de contragolpe do Escudo-Espelho. A invasora avança com toda sua fúria, enquanto Werena posiciona o escudo a sua frente com os joelhos flexionados pronta para receber impacto, conjurando a energia do artefato fazendo suas escrituras se iluminarem em um verde cintilante. Com o punho em riste, Maya soca o escudo com toda a sua força, ativando o poder do artefato e devolvendo todo o impacto para sua adversária, numa onda de energia cinética que a atira a alguns metros tamanha a força do choque..

— Eu vou te colocar no seu lugar!

Temendo pelo uso de armas de fogo, Werena evita se distanciar, ficando sempre na cola de Maya e com o escudo entre elas pronta para defender-se de investidas.A invasora, temendo ser atingida novamente pelo contragolpe mágico, mantém-se defensiva, encarando Werena nos olhos, enquanto uma rodeia a outra, quase como uma coreografia. Imaginando ter um momento oportuno Werena faz uma oração conjurando a benção de Yaci entrando em comunhão com a energia espiritual a sua volta elevando sua força. Maya também para. Não sabia como proceder, nunca havia enfrentado alguém que lutasse com magia e apenas espera o momento de agir.

— Pela força de todas que vieram antes de mim, e pela continuidade das que virão depois, minhas mães, minhas irmãs e minhas filhas, me impulsionem nessa investida!

Com a força de suas irmãs, Werena realiza mais um ataque com seu escudo, dessa vez mirando nos joelhos e canelas de Maya, mas a adversária apenas salta para o lado, comos e fosse um toureiro esquivando do ataque de um touro.

A comunhão de Werena não fez efeito, mas a amazona ergue o escudo-espelho novamente, conjurando a força de suas ancestrais para uma última comunhão. Desta vez, Maya já entende o que a sacerdotisa queria. Por sorte, conseguiu esquivar de sua investida mágica, mas não apelaria para o acaso de novo, não poderia deixar que Werena ativasse seu poder. Antes que a amazona completasse sua prece, Maya saltou sobre ela, chutando-a no rosto e interrompendo a magia. A invasora manteve-se distante, para a sorte de Werena, que, sem a magia, ficou desprotegida e desorientada. O chute que recebeu foi tão poderoso que lhe causou tontura e, antes da visão escurecer, Werena vê Maya aproximando-se e erguendo o Escudo-Espelho.

— Fique no chão, aberração! Perdi Tayná, mas completei minha missão!

***

Wanyama, Lago Nyamza, 1915.

A batalha contra sua própria irmã é, certamente, a mais perigosa que Kitok já teve. Em seu pensamento, como uma tentativa de manter seu orgulho intacto, mesmo bastante ferido e nitidamente cansado, o rei kucha se apega ao fato de, nas veias de Nefret, correrem o mesmo sangue que o seu.

— Quão poderosa é a prole de meu pai! Não fosse o mesmo sangue que corre em minhas veias essa batalha já teria encerrado.

— Sim e apenas meus descendentes levarão o legado de Mfalme – responde Nefret.

Kitok para por alguns segundos, conferindo as feridas da costela. Seu corpo demonstra cansaço, mas não seu espírito. A respiração do guepardo acelera à medida que seu ódio e raiva aumentam.

O rei avança contra sua inimiga ao mesmo tempo que ela revida. As garras de Kitok resvalaram na bioarmadura, produzindo sulcos que ferem a carne de sua irmã. Nefret golpeia com suas lâminas de queratina, tirando mais sangue do guepardo. A proximidade do rosto de Nefret assusta Kitok, seus olhos repletos de raiva e inveja. Ele sabia que ela não pararia por nada. A acólita avança ferozmente, atacando sem cessar. Assustado, o irmão defende-se como pode, mas perde a paciência depois de minutos ininterruptos de golpes, contra-atacando mesmo que sua adversária não desse trégua.

Exausto, Kitok derramaria até a última gota de sangue e suor para defender seu reino das garras de Nefret. Preparado para a investida ininterrupta, ele volta a se defender, até ter a oportunidade de revidar, mas, desta vez, Nefret bloqueia as garras do irmão com suas lâminas.

— É fraco, irmão! Te falta fúria!

Kitok cai na provocação, mas Nefret estava preparada e se defende novamente, enquanto gargalha.

Voltando a ser atacado sem trégua, Kitok defende-se como pode. A única alternativa seria atacar também, mesmo que fosse ferido mais uma vez. Ele é um guepardo e calça as Sandálias da Velocidade. Enquanto Nefret não parava sua investida, Kitok invoca o poder do artefato, ficando mais veloz, conseguindo bloquear os ataques da irmã e revidando em velocidade impressionante. Nefret foi ferida mais uma vez, só o poder do artefato seria capaz de derrotá-la. Kitok continua com a velocidade do artefato, enquanto Nefret acertava-o uma vez, ele fazia dois ataques ao mesmo tempo. Se Nefret atacava sem trégua, sem trégua ela seria atacada. Com uma sequência rápida de golpes, Kitok finalmente vence sua irmã, mas teve tantos ferimentos que desfalece, mas ainda tem tempo de ver Tai, o lacaio alado de Nefret recolhendo o corpo de sua mestra e voando para longe, levando-a em segurança.

Enquanto isso, Jakku desenterra seu chifre da barriga do crocodilo, banhado pelo sangue do réptil, vendo seu corpo cair sem vida aos seus pés. O enorme animal observa ao seu redor, procurando por Argh, mas seus olhos recaem em Tyler, que havia sido afastado por Kitok logo que desceu da caravana.

Armado e traiçoeiro, o caçador representa perigo e passa a ser seu novo alvo.

— Sua caçada termina hoje – diz o rinoceronte.

— Tem razão, animal. E sua cabeça será meu troféu – desdenha o inglês.

O coração pacífico de Jakku o contém e o rinoceronte apenas se põe entre Tyler e o combate entre os irmãos. Riscando o chão com as patas dianteiras, Jakku demonstra estar atento, principalmente às armas do mercenário. Tyler percebe a hesitação e, rapidamente, saca sua espingarda e atira no rinoceronte. O disparo atinge o dorso de Jakku, a queimação dói bastante, o que deixa o feral momentaneamente em estado de choque.

Quando o inglês se protege por trás de uma árvore, recarregando a arma de fogo, Jakku se recompõe e avança contra o caçador. Antes que o atingisse com o chifre, Tyler dispara mais uma vez, atingindo Jakku de raspão, aquele seria o último tiro que levaria. O chifre atinge a arma, levando-a para longe com a força do golpe.

— O selvagem tem medo da minha arma? Mas não precisarei dela para lhe vencer – diz Tyler, sacando uma enorme faca.

A couraça de Jakku serve bem como proteção contra golpes da faca de Tyler. A lâmina não é tão potente quanto o disparo da arma de fogo, mas este é justamente o ponto fraco de Jakku. Com um golpe certeiro, o caçador perfura o ponto onde a bala penetrou, arranco do rinoceronte um grunhido agudo.

— Ruuuunnn!!!

Sentindo a lâmina em sua carne, Jakku tomba o corpo para o lado, protegendo o ponto fraco, o que faz a lâmina de Tyler resvalar na couraça protetora e o caçador perder o equilíbrio, perdendo outra de suas armas.

Desarmado, Tyler parecia um alvo indefeso e fácil para Jakku. Um ataque pesado em carga, novamente usando seu chifre contra o corpo de Tyler, foi desferido, mas o inglês também é forte fisicamente. Ele apara o chifre com as duas mãos antes que a protuberância o empalasse. Com um movimento, o caçador dá a volta com seus braços poderosos, agarrando o pescoço do animal. Se não podia usar armas de fogo ou armas brancas, iria matar Jakku com suas próprias mãos.

Neste momento, um portal se abre no meio da batalha. Za-Har estranha o clima seco das redondezas de Wanyama. Por mais que estivesse às margens do Lago Nyamza, o ambiente não é úmido o suficiente para ele, mas estes pensamentos logo se dispersam quando ele vê o portador das Sandálias da Velocidade sendo derrotado por uma criatura recoberta de uma bioarmadura, mas que é levada para longe por um monstro alado, muito diferente das asas luminosas de Yaset. A vida do homem-felino que calçava o artefato está por um fio e ainda há um humano lutando contra o que Za-Har entende ser um animal de carga. Associando o homem-animal ao outro animal que era sufocado pelo humano, o atlante usa seu poder sobre a água para criar uma tromba que arrasta o caçador para as águas, levando-o para o fundo e deixando o animal em paz.

— Infelizmente, Atlântida não conhece a biologia deste animal e nossos veterinários não poderiam ajudá-lo, mas agora está livre do perigo. Espero que consiga sobreviver por conta própria. O portador, no entanto, talvez meu súditos possam ainda possam salvá-lo – diz Za-har, com pesar.

Carregando Kitok nos braços, o atlante atravessa o portal, chegando a Atlântida no mesmo instante em que Yaset cruza o portal que a levou a Warábia, trazendo consigo uma estupefata Lahyla. Quando retorna, a princesa atlante, devido à magia de localização dos artefatos ainda ativa, sente que os portadores do Escudo do tombaram, mas o portador do Cinturão estava bem.


[PONTOS DE VIDA]
YASET: 2/2
ZA-HAR: 3/3
BAN: 1/3
KITOK: 0/3
LAHYLA: 1/2
WERENA: 0/2

ARGH: 0/2
JAKKU: 1/4

[PONTOS DE MAGIA]
YASET: 3/7
ZA-HAR 2/3
BAN: 2/3
KITOK: 1/2
LAHYLA: 3/6
WERENA: 0/5

ARGH: 1/1
JAKKU: 1/1


Próximos objetivos:
• Curar os feridos.
• Ajudar Werena.
• Interrogar Ji.
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Episódio 07 - Casamento do Sol e da Lua Empty
MensagemAssunto: Re: Episódio 07 - Casamento do Sol e da Lua   Episódio 07 - Casamento do Sol e da Lua EmptyQui Set 02, 2021 10:26 pm

A QUEDA




Atlântida, Polo Norte, 1915.


— Zahar, também foram atacados por lemurianos? — Yaset pergunta de imediato ao passar pelo portal, ainda tomada pela adrenalina do combate.

Ao notar os sérios ferimentos da odalisca e o príncipe desfalecido, a atlante tenta agir com urgência para não perder ninguém.

— Corra! Tente chamar alguém para cuidar desses dois enquanto abro o portal para salvar o próximo portador! — Ela grita para Zahar.

— Não é meu forte – Zahar responde – mas acho que ainda lembro de algumas coisas.

Zahar tenta olhar para sua noiva, mas ela já se colocava em prontidão mostrando urgência na resolução. Sabendo de seu dever e aflito pela ansiedade de Yaset, ele prepara uma cura mágica, para acordar o rei feral. Se lembrando do seu período em treinamento com os outros garotos ele se ajoelha ao lado do corpo de Kitok, estende as mãos e sente a passa a reunir a energia táumica para realização do feitiço. A regulana olha com satisfação para seu parceiro, nunca havia precisado que ele usasse aquela técnica. Mesmo após cinco anos juntos, ele ainda era capaz de surpreendê-la. Com o feral em boas mãos, ela volta a falar com a odalisca.

— Você sabia sobre o chapéu da fortuna, então deve conhecer um pouco de magia. Pode me conceder um pouco de sua energia espiritual para salvar outra como você? Vou precisar de toda ajuda possível para isso dar certo.

Lahyla depois de tudo que aconteceu, respira fundo. Ela sente que Haermys ainda está com ela e sente um alívio de estar com vida. Seu corpo esfria e suas feridas começam a doer, mas não dói mais do que saber que Roderick está vivo. Ela senta no chão e suas lagrimas começam a rolar pelo misto de várias emoções.

— Ainda bem que ainda está comigo – Sussurra ela para seu peito com seus pensamentos para seu companheiro — não suportaria perder você.

Olhando rapidamente para sua salvadora, ela percebe que a figura angelical olha diretamente para os ferimentos causados na sua longa trajetória até aquele momento. Principalmente sua luta com o seu antigo carrasco.

Lahyla consente com a cabeça ao pedido de Yaset e começa uma sequência de passos que aprendeu a muito tempo para passar energia para alguém e, ao final de seus passos toca, em sua nova aliada, transferindo a energia que ela precisa.

Yaset começa a tecer os nós para abrir outro portal, dessa vez até a floresta amazônica, onde havia sentido os portadores do escudo. Sua decisão é de salvar aqueles que estavam em perigo primeiro, guardando suas forças para ajudá-los, para somente depois ir atrás do portador do Cinturão, que já estava bem.

— Yaset, não se preocupe, eu irei ver o portador do Cinturão. Enquanto nossos convidados permanecem aqui, se recuperando.

A princesa concorda e Za-Har cede sua própria energia táumica para que a regulana teça um portal para os Himalaias. Ambos os portais se abrem ao mesmo tempo, um levando ao clima frio e seco e outro levando ao clima quente e úmido. O casal se despende com o olhar, cada um seguindo seu caminho.

Enquanto isso, Lahyla faz os mesmos passos de dança, transferindo parte de seu poder para o elemental de ar que mora em seus pulmões e, com um só pensamento, ela usa o dom dele para começar a reparar suas próprias feridas.

— Pegue o Chapéu, minha senhora, ele é seu, a nós nos foi confiado – Sussurra Haermys — Este é um artefato de outro mundo, de um mundo que jurava não ver mais, mas este lugar me traz lembranças de minha terra natal.

— Estou muito confusa ainda sobre tudo que está acontecendo. Mas não tenho dúvida em relação a essa responsabilidade que a mim foi confiada.

— Há muito tempo, em uma galáxia muito, muito distante, havia um planeta chamado Regulus, o meu lar. Ele foi destruído após a invasão de um ser colossal de outra dimensão. Com esforço, reuni diversas almas dos meus compatriotas para banir a criatura, mas a um custo muito alto. Vim parar neste mundo há milênios e percorri grande parte dele. Veja este homem-felino, ele é descendente do povo de Regulus, mas o que mais me impressiona é a arquitetura deste lugar.

O elemental comanda as pernas de Lahyla para que ela chegue até a janela e se emociona com o que vê.

— Minha senhora… Estamos em Atlântida!

***

Chegando à floresta, Yaset quase se permite perder um momento admirando a beleza das espécies locais. Era tão – ou mais – bonito que os Jardins da Serpente em Regulus. Ela vê uma moça com a pele num lindo tom dourado caída e outra mulher portando o escudo de forma ameaçadora. Como havia sentido que o escudo tinha dois portadores e não viu nenhum sinal de lemurianos, a aquilina supõe que a ameaça já havia passado.

— Saudações, grande guerreira – A princesa aborda Maya, sem se dar conta do perigo — Sou Yaset, princesa de Atlântida, é uma honra conhecer a nova portadora do Escudo-Espelho!

— Que porr... Você é alguma espécie de espírito que aparece para quem é dono disso?

— Não exatamente um espírito, mas é meu dever guiar os portadores do escudo. Você e sua amiga foram atacadas? — Yaset se ajoelha ao lado da mulher caída e tenta checar se ela está bem.

— Sim, fomos... Essa aberração aí atacou a todas nós — Maya tenta segurar o riso — Não confie na aparência desta criatura, não sei nem dizer se ela é humana de verdade.

Yaset fica confusa com a resposta da portadora. Anteriormente, havia sentido que os portadores do escudo haviam caído, por isso supôs que a mulher de pele dourada era uma delas. Mas se ela e a mulher alta não eram aliadas, isso queria dizer que aquela que carregava o escudo era uma possível impostora.

— Ainda bem que conseguiu cuidar dela sozinha. Como ela a atacou? — A princesa tenta tirar informações de Maya com cuidado.

— Ela veio tomar o Escudo, e usou uma magia para banir minha amiga para o lado oculto da Lua. Tenho de resgatá-la agora.

Yaset interpreta outra pista. O uso de magia lunar parecia ter mais ligação com o Escudo-Espelho do que com lemurianos. Ela resolve arriscar no palpite de que a mulher que segurava o espelho era de fato uma impostora.

— Vou ajudá-la a resgatar sua amiga, depois posso te ensinar a acessar poderes ocultos nesse escudo. Só me dê um minuto.

Yaset começa a reunir energia táumica, mas não para ajudar Maya. Em vez disso, a atlante pretende abrir um grande portal embaixo de seus pés, lançando-a em Atlântida, onde poderiam cuidar dela mais tarde.

— O que está acontecendo? Você me traiu…

O portal sob os pés de Maya lançam-na direto em seus aposentos, mas não no chão, em pleno ar, fazendo com que a inimiga perdesse o equilíbrio. A passagem abre-se rente ao teto, sem ter onde se apoiar, a impostora desespera-se, largando o escudo para se segurar no forro do aposento. Confiando em sua intuição, Yaset alça voo carregando a desfalecida Werena em seus braços, com os recursos atlantes, poderia curar seus ferimentos rapidamente.

Haermys controla momentaneamente o corpo de Lahyla, projetando ar de suas mãos para prender Maya no alto.

— Eu te ajudarei, filha.

***

O segundo portal levou Za-Har ao terreno montanhoso de Longshan. Ele reconhece de imediato o portador do Cinturão da Força, um monge careca de quase dois metros. Perto dele, um outro homem, menor, vestido de vermelho, além de uma criatura recoberta com o mesmo material queratinoso que a irmã de Kitok usava. O regente de Atlântida levanta as mãos para cima para não mostrar hostilidade. O frio das montanhas parecia mais agradável que o calor da savana, mas ainda assim preferia estar na submersa Atlântida. A primeira aproximação do campeão, Zahar tenta se lembrar das aulas de trato diplomático, dormia acordado na maioria ou arrumava confusão e agora se arrependia disso. De forma meio desajeitada ele faz uma reverência aos anciões e se reapresenta.

— Sou Za-har, Zuhur de Atlântida, regente e governante. Venho em nome da paz entre nossos reinos.

— Sim, eu sei. Meu mestre avisou que vossa majestade viria, quando a Vila fosse atacada por criaturas como essa – ele aponta para o Acólito do Abismo — Sou Diwu, portador do Cinturão da Força, Campeão dos Dragões de Longshan, e este é Huo Ban, o mais novo Dragão Vermelho. Infelizmente, fomos atacados por um traidor, o antigo Dragão Amarelo, Zhu Ji, mas consegui derrotá-lo.

— É deveras.... deveras... Olha, eu sou rei, mas não sei fazer essas coisas de papo de diplomata. Eu to com medo pelo meu lar, pelo lar de vocês, e o medo é paralisante, é alerta para nos prepararmos para o pior. Minha noiva foi ao auxílio de outro campeão, que aparentemente caiu perante o inimigo... Eu poderia ver o traídor?

Diwu usa o seu poder sobre a terra e constrói um monólito que ergue o corpo de Ji, deixando somente a cabeça para fora.

— Claro, majestade. Ele é todo seu.

— Você vai nos dizer tudo sobre seu mestre e esse ataque combinado de vocês. E se caso você pensa que há opção de não dizer, aqui vai um pouco do que te espera.

Zahar conjura uma pequena quantidade de água para cobrir a região do nariz e boca do cativo. Com postura ameaçadora, o atlante espera provocar um afogamento controlado, intimidando-o e forçando a contar sobre os planos dos Acólitos

— Hahahahahaha – Ji ri da ameaça de Za-har.

Assim que o jato d’água atinge a face do ex-monge amarelo, a bioarmadura do Acólito recobre seu rosto, protegendo-o e fornecendo oxigênio para o hospedeiro.

— Mas se quer tanto saber de meu mestre, porque não pergunta a ele?

Quando Za-har se vira, vê somente a lâmina de uma cimitarra brotando do peito de Diwu e rasgando todo o tórax do Dragão Oriental. Ban olha horrorizado com a morte do campeão de Longshan.

— Um atlante? Posso responder às suas perguntas se me responder antes: onde está o anjo de pedra?

A lâmina pertence a um homem que bate com as descrições que Yaset fez do primeiro humano que ela conheceu, o mago que a estudava quando ela ainda estava petrificada.

— Ban – a expressão de Zahar é muito séria — Pegue o cinturão e entre no portal! Diga a Yaset que nos vemos numa nova vida!


O Rei, ciente de seu dever, avança contra o Turk sem cessar com sua espada enquanto Ban pede permissão ao cadáver de Diwu para apanhar o Cinturão da Força. Za-har desembainha a espada, conquistada no dia em que conheceu Yaset. A Lâmina só havia sido usada uma vez, por ironia do destino, contra este mesmo opositor, embora tivesse sido apenas um lacaio conjurado por ele. O sucesso obtido em sua primeira peleja lhe enche de esperanças de derrotar o vilão cara-a-cara.

Sem hesitar, o atlante descreve um arco crescente, cortando a capa que protegia John Turk e produzindo um rasgo em sua túnica, produzindo um risco vermelho de sangue. O adversário dá alguns passos para trás, aproveitando a distância para recitar palavras obscuras e fazer nascer dois tentáculos de cada lado de suas costelas. O rei de Atlântida  olha horrorizado para aquela aberração e desvia o olhar, prestando atenção em Ban, que se termina uma prece sobre o corpo de Diwu.

Na tentativa de proteger o último dragão, Zahar continua avançando, sem dar trégua. Com um comando mental, a espada transforma-se em um tridente, espetando a monstruosidade, apenas para perceber que os tentáculos que brotaram do tórax do inimigo serviam como escudo contra suas investidas. A espetada do tridente traz consigo o tentáculo. Com nojo, o rei se livra do membro, arremessando-o longe.

— Aberração, não o deixarei viver!

Com uma estocada fulminante, Za-har urra e encurrala Turk, atacando-o para que ele recuasse, afastando-se cada vez mais do corpo de Diwu. O adversário recua, protegendo-se novamente com outro tentáculo arrancado de seu corpo.

Ciente que inimigos encurralados ficam agressivos, o atlante prepara uma defesa, aproveitando para conferir se Ji está em condições de lutar. O lacaio ainda preso às rochas conjuradas por Diwu sorri assistindo a luta. Como esperado, Turk ataca. Um de seus tentáculos é envoltos em uma aura verde luminosa. O membro enrosca-se no braço de Zahar, sem feri-lo, mas ele sente um formigamento. Por um momento, uma forte tontura o envolve, fazendo o rei perder o equilíbrio e ficar incapaz de contra-atacar, usando seu tridente de apoio para vomitar um pouco. O veneno dá a Turk a oportunidade de um ataque sem chances de defesa e a cimitarra do mago corta as costas arqueadas de Zahar.

Quando finalmente se recupera e empunha o tridente novamente para um revide, mas qual é a sua surpresa quando a arma começa a se mexer e se transforma em uma cobra de três cabeças, picando o tórax de Zahar. Assim que a criatura provoca o ferimento, a arma volta à forma original nas mãos do atlante.

Assustado com as magias daquele profanador, Zahar persiste nos ataques, espetando o tridente para afastar Turk. Irado com as artimanhas do mago, o atlante arranca mais um dos tentáculos conjurados pelo vilão, arremessando-o para longe ainda em movimento. No entanto, Zahar lembra de seu treinamento e sabe que não deve subestimar seu inimigo, assumindo uma postura defensiva, mas o mago mantém a distância mesmo assim. Com outra prece soturna e esticando a mão em direção a Zahar, Turk invoca outra magia. Para a surpresa do rei de Atlântida, ele se sente mal e vê os ferimentos que causou no inimigo se fechando. Ele estava se recuperando. 

O atlante olha para Ban, já com o Cinturão em mãos e prepara um contra golpe transformando o tridente numa espada. Urrando, ele vai com tudo em um ataque em carga para que Ban tivesse tempo suficiente para passar pelo portal.

— Vá! Atravesse o portal! Eu vou atrasá-lo!

Ban consente com a cabeça e, atravessando o portal, em instantes está em Atlântida. A visão é estranha para o monge dragão, além de um palácio de arquitetura alienígena, uma warabe está debruçada sobre uma indígena sulamericana, numa espécie de ritual de cura, enquanto uma figura angelical de pele alva tenta recobrar a consciência de um homem africano com feições felinas. Todos portam itens feitos com o mesmo metal do Cinturão da Força. Uma movimentação no portal chama a atenção de todos. Zahar salta no meio da passagem, triunfante.

— Minha amada! Venci! Vamos terminar o ritual, temos todos os artefatos agora!

Yaset se alegra. Depois de milênios, finalmente estaria com a alma de seu esposo e com a criança nunca nascida. Os padrinhos são apresentados e a princesa discursa.

— Me desculpem pela forma como os conheci, sou Yaset da Casa de Águia de Regulus. Os artefatos que vocês carregam pertenceram ao meu povo, agora extinto, e o último filho deste mundo precisa da benção de vocês para eclodir do ovo. Por favor, ajudem-me a consagrar minha criança!

Werena é a primeira a aceitar. A amazona sabe da importância das crianças, cresceu em meio a rituais daquele tipo. Kitok é o seguinte, pois entende a cerimônia assim como faz o povo de Wanyama. Ban ainda está desolado pela morte de Diwu, mas lembra dos ensinamentos do Dragão Ancião de que isto um dia seria necessário. Lahyla é a última e ela compreende como a família é importante. Apenas uma pessoa acha estranha a postura de Zahar.

Como um suspiro, Haermys deixa momentaneamente os pulmões de Lahyla. Ele é capaz de reabrir o portal conjurado por Yaset e o atravessa, apenas para ver o corpo morto do verdadeiro Zahar nas terras de Longshan.

— Impostor!

Haermys gera uma lufada de vento com ira, com força suficiente para lançar o corpo do atlante para o centro do ritual.

Yaset grita, correndo para acudir aquele que dividiu a alma com seu amado. Em prantos, ela fica encharcada de sangue real, enquanto o falso Zahar corre para uma área aberta.

— Estamos sendo atacados! Fui traído pela celestial!

Turk volta à sua verdadeira forma e gargalha para os presentes, antes de sumir dentro de seu próprio portal. Toda esta movimentação havia chamado a atenção de outros atlantes e o primeiro que chega aos aposentos do casal real é Tihumla, o antigo regente. Chocado com a morte do rei, mas ainda ganancioso em reaver seu lugar como regente, ele pronuncia apenas uma frase.

— Traidora e seus lacaios, pagarão pela morte de Zahar!

Tihumla sopra uma corneta e Yaset sabe que, em instantes, o salão seria inundado de guardas. Mesmo inocente, só haveria uma possibilidade a seguir: fuga. Haermys atira uma rajada de ar, afastando o atlante para longe. Lahyla ergue Werena e Kitok se apoia em Ban. Os portadores se perguntam onde se meteram com tudo o que aconteceu repentinamente, mas sentem que não podem ficar ali mais tempo.

— Temos de ir, filha. Voltemos ao último lugar onde o rei esteve vivo. Tenho certeza que podemos receber abrigo lá.


Os quatro portadores dos artefatos atlantes e Yaset, agarrada ao ovo regulano, ainds sem acreditar nos infortúnios em série que acabaram de acontecer. Chocada, ela se despede daquele corpo que seu amado compartilhou a alma.
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