Após a queda da mítica Atlântida, poderes são aprisionados no Cometa-Prisão e a libertação deles dão início a uma nova ordem.
 
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 Episódio 06 - O Escudo-Espelho

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MensagemAssunto: Episódio 06 - O Escudo-Espelho   Episódio 06 - O Escudo-Espelho EmptySeg Mar 02, 2020 4:36 pm

Onde uma jovem amazona recebe a honra de portar o Escudo-Espelho de Yaci, a Lua.


Última edição por Anfitrião em Seg maio 23, 2022 12:23 pm, editado 6 vez(es)
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MensagemAssunto: Re: Episódio 06 - O Escudo-Espelho   Episódio 06 - O Escudo-Espelho EmptySeg Mar 02, 2020 4:36 pm

ATO 1


29 de setembro de 1914, Nhamundá, Amazônia Brasileira.
 
A lua cheia despontou no céu. Seu brilho prateado iluminou o mítico Yaciuaruá, o Espelho da Lua, lago sagrado para as amazonas de Yaci-Taperê. As jovens amazonas estavam em rebuliço, pois era a noite da sagrada Festa de Yaci. É nesta noite que as amazonas muiraquitanas confeccionam seus amuletos. Um cortejo ritualístico de amazonas desceu a Serra da Lua, carregando nos ombros potes e cabaças cheios de ervas e raízes cheirosas. No meio da imensidade do sertão amazônico, elas entoavam cânticos que poucos homens ouviram. O cortejo chegou ao Espelho da Lua. Óleo balsâmico de umiri e a essência de molongó alcançam os ares e exalam seu perfume. As cabaças de perfume são derramadas são derramadas no Lago Sagrado em honra a Yaci, purificando as águas escuras que reflete o brilho prateado da Lua. Quando a Lua chega ao meio do firmamento, Yaci, a matriarca anciã, de pele tão seca que pareciam escamas, abençoou as jovens muiraquitanas e um profundo silêncio pairou no ar, antecedendo seu discurso.
 
— Há milhares de anos, nossas ancestrais chegaram a essa terra após a terrível catástrofe. Construíram, da lama, nossa poderosa cidade e se multiplicaram, criando a mais poderosa nação que essa terra já viu. Como nossas matriarcas fundadoras, estamos novamente em um momento de crise. Muitas de nossas irmãs morreram para proteger a cidade dos invasores. Aliados como os Guacaris e os Tapajós foram completamente exterminados, mas as Icamiabas ainda resistem. Hoje plantamos o futuro das Icamiabas. Que vossos ventres sejam semeados com as mais poderosas guerreiras que esse mundo já viu. Que sejam tão sábias quanto Zimbia, tão fortes quanto Ngaya e férteis como Yaset.
 
Repentinamente, as águas sibilaram, convidando as muiraquitanas a se banharem em suas águas. Embora não fosse a primeira Festa da Lua de algumas, todas elas sentiram seu coração palpitar. Elas olharam para a Lua e sorriram, levantando as mãos para o céu como uma prece.
 
Num movimento rápido, mergulharam no Espelho da Lua, as flutuações da água formaram um padrão belíssimo desenhado pelo brilho lunar. Enquanto serpentes gigantescas, da grossura de troncos de árvores, nadavam ao seu redor, iluminando as águas escuras com seus olhos perolados, as muiraquitanas nadaram até o fundo lodoso, colhendo porções de barro mole e verde, onde elas moldam pingentes em formas de sapos. Os amuletos foram deixados num terraço alagado, sob a luz da Lua e ali não foram mexidos até que a água secasse e o Sol petrificasse o barro, gerando um pingente de pedra tão verde quanto uma esmeralda.
As demais amazonas vibraram e recomeçaram a cantoria e os batuques, pois sabiam que se aproximava a hora que os homens, atraídos pelas uiaras, viriam como convidados-amantes especiais para o ritual de fertilização.
 
Aos poucos, cada uiara trazia de um a três homens consigo e as caaporas tratavam de oferecer cauim aos convidados. Cantoria, alegria e sedução marcava a madrugada, onde uma verdade orgia regada a sexo, dança e álcool terminaria somente pela manhã. Era o dia mais importante da tribo, mas também quando se encontravam mais vulneráveis, já que sua defensora, a portadora do Escudo-Espelho, também participava das festividades.
Werena estava contente, mesmo proibida de participar do rito foi autorizada a entoar o canto junto com suas irmãs iaras que a tratavam como uma eterna caçula. Mesmo que sempre excluída de algumas atividades, nunca se sentiu menor, todas naquele paraíso a amavam e faziam de sua diferença motivo de orgulho. A matriarca jaci sempre dizia que sua condição colaboraria para trazer o equilíbrio entre as energias primordiais geradoras de vida.
Naquele ritual não pudera cantar, só se atrevia a usar seus dons quando a lua estava enchendo ou cheia, quando sentia sua magia fluir de seu ventre. Quando seu falo crescia era instruída a usar de sua inteligência e instinto de sobrevivência. E hoje sentia constantes arreipios.
Quando o momento do ritual chegou, a matriarca afagou suas madeixas que se estendiam até as ancas redondas e definidas e beijou sua testa. Werena sorri e se afasta da festança observando tudo de longe sonhando com o dia em que estaria ali.
Tudo se desenrolava nos conformes de outros anos. Não era a primeira vez de alguns dos homens, pois, assim que raiasse o dia, os filhos homens do ritual do ano anterior deveriam ser entregues aos pais. Entretanto, aproveitando-se da distração, dois homens se esgueiravam nas sombras da floresta, observando tudo como predadores.
 
— Eu disse que conseguia te trazer até aqui. Minha parte está feita, agora espero um pagamento bem gordo. — Disse Ubiratan, o homem largo e forte, sem tirar os olhos das mulheres nuas. Há anos, ele mesmo morara na floresta e presenciar um cortejo das amazonas. Entretanto, por ser tão jovem e descontrolado, foi descartado pelas uiaras. Agora, voltava como um conquistador, civilizado. Prometera ao homem branco ao seu lado que o guiaria até a cidade, em troca de uma fortuna. Estavam vagando pela floresta há dias, quando deram a imensa sorte de escutar o barulho das festividades, que os guiaram até ali.
 
— Prum índio até que cê num é burro. Fica tranquilo que com o pagamento dos europeu, nós dois vamo ficar rico. — Disse Rodolfo, um homem de pele branca bronzeada com uma barba negra desgrenhada. Não conseguia decidir se estava mais fascinado com as belezas naturais da cidade, ou das índias. — Precisamo levá uma prova pra mostrá que achamo mesmo a cidade. Tira essa roupa de branco, pra entrá no meio da festa disfarçado, e traz qualqué uma dessas.
 
Ubiratan obedeceu e em poucos minutos se infiltrou na festança, se aproximando de um grupo de homens que dançavam e bebiam com as amazonas, como se sempre estivesse estado ali. Seus olhos atentos percorrem a festa até notar uma jovem que observava tudo de longe, sem participar, mesmo tendo as pinturas de corpo ritualísticas das outras mulheres e usasse acessórios típicos daquela tribo. Era um alvo fácil para Ubiratan.
 
Werena só percebe quando mãos calejadas cobrem sua boca e arrastam seu corpo para a floresta, sem dar tempo de pedir ajuda. Ela é arrastada até uma clareira, onde um homem branco esperava, com uma arma de fogo em mãos e um sorriso pérfido no rosto.
 
— Muito bem, Ubiratan. Podemo até aproveitá antes de entregá ela.
 
Os homens reparam melhor o corpo de Werena sob a luz do luar. Fora das sombras das folhas das árvore, visualizam um corpo quase andrógino, seu corpo magro e com seios pequenos mostravam que Werena transitava entre um jovem rapaz ou uma moça quase sem curvas. Seu peito reto decorado apenas por pinturas e colares de sementes e penas é alisado pelas mãos grossas e calejadas que contrastavam com a suavidade da pele da amazona. A única parte coberta de seu corpo era a púbis, uma tanga feita de palha tecida escondia seu sexo. Quando a roupa finalmente foi arrancada, os homens se entreolham assustados e incrédulos, pois aquela amazona, em sua visão, não era exatamente feminina.
 
O momento de surpresa dos raptores dá a Werena oportunidade de reagir.
 
Os sonhos e pensamentos distantes de Werena a distraem da aproximação sorrateira de Ubiratan. Quando deu por si, a amazona já estava sendo arrastada contra a sua vontade. Tentou espernear e resistir, mas os largos braços do raptor a apertavam de forma sufocante e suas abafadas contestações eram engolidas pelos gemidos da orgia ritualistica. Chegando a clareira, onde se deparam com outro homem, eles tateiam seu corpo e a amazona fica paralisada de medo. seus olhos ficam frenéticos buscando uma escapatória da situação. Sua tanga é então arrancada e seus captores abrem uma brecha por conta de seus espanto e fascínio por aquele corpo místico e incomum.
Aproveitando a distração dos captores, a amazona salta em cima de Rodolfo, esticando as mãos para rasgar-lhe a face. O homem branco é pego de surpresa, tenta saltar para trás, mas não é rápido o suficiente. Um grito lhe escapa quando as garras de Werena cortam a pele de seu rosto, deixando quatro marcas sangrentas em sua face. Após o ataque, a amazona cai no chão e, sem perder tempo, tateia o solo a procura de uma pedra. Suas mãos fecharam em volta de uma rocha sólida e ela epositou toda sua força afundando o rosto do homem branco até que se tornasse vermelho e disforme. Mas Werena não era uma guerreira, a sorte permitia que derrubasse o primeiro, mas o outro perigo ainda estava em suas costas.
Ubiratan, que estivera parado até agora, surpreso com a aparência da amazona e seu repentino lampejo de fúria, encarando aquela que despertava seu interesse. Entretanto, a situação era de luta. Para sua própria sobrevivência, ele deixa a admiração de lado e puxa os cabelos da amazona com violência e a retira de cima de seu finado contratante, ele encara aquela amazona com sexo masculino. Estava coberta pelo sangue de Rodolfo.
— Elas não devolvem os meninos para os pais? — O indígena pergunta, enquanto a mantia presa firmemente pelos cabelos longos, longe de seu corpo para evitar ataques.
— Eu fui abençoada por Yaci a transitar de corpos conforme a vontade da lua, agora me solte, eu ordeno! — rosna Werena.
— Ordena? Você não está em posição disso... — Ubiratan queria parecer assustador e Werena nota o desejo em seus olhos.
— Deixa eu te mostrar uma posição bem mais interessante então... Sou tão calorosa quanto qualquer outra Iara, e meu canto pode ser tão perigoso quanto... Seja lá o que ele lhe ofereceu, eu posso mostrar segredos ainda mais... Excitantes! — Escondendo o medo, ela se lembra do que aprendera com as Iaras mais velhas, nem sempre era uma questão de beleza, embora ajudasse, mas domar o desejo de um homem tratava-se muito de oferecer o que ele ambiciona. — Posso te fazer uma poderosa lenda, se me deixar viver e atender ao meu chamado.
Ubiratan a coloca no chão e fica demonstra um semblante perdido quando Werena fica encarando-o nos olhos. Ela tinha algo de selvagem e desafiador, mas paradoxal por sair de uma criatura tao delicada. A Iara move a cabeça lentamente para que seus cabelos caiam por cima de seus ombros e cobrindo seu peito, ela fica na ponta dos pés e encosta os lábios nos do guerreiro e recua alguns centímetros. Ela sussurra em seus ouvidos.
— Me procure em sete dias neste mesmo lugar e trarei o segundo segredo, o primeiro, bem, será essa nossa aliança. — ela massagea os testículos de Ubiratan com suas suaves mãos e então se vira lentamente para que ele contemple seus quadris arredondados, numa fronteira entre masculino e femino. Ele pega na cintura da Iara e cheira seus cabelo, seu pênis baba, mas ela se esgueira de suas mãos grossas e sai andando devagar exibindo seu rebolado até perder-se entre as folhagens.
O truque funciona. Ubiratan fica para traz, com um Rodolfo ensanguentado. Enquanto ela volta para a tribo para relatar a invasão, Ubiratan foge com um sorriso no rosto e a lembrança de Werena na mente.
[Resolução]

Desafio: Derrotar Ubiratã. ND 8
Werena:  ♣3  + 9C = 12.
Sucesso! Werena ganha 1PE.

Desafio: Derrotar Rodolfo. ND 10
Werena: ♠0 + AE = 14.
Sucesso! Werena ganha 1PE.


Última edição por Anfitrião em Qui Jan 07, 2021 1:37 pm, editado 5 vez(es)
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MensagemAssunto: Re: Episódio 06 - O Escudo-Espelho   Episódio 06 - O Escudo-Espelho EmptySex Mar 13, 2020 12:42 pm

ATO 2

Nas primeiras horas que seguem o êxtase da festividade lunar, a tribo é dominada por medo e pavor. O relato de Werena de invasores já dentro dos limites de sua cidade secreta é um mal agouro para o futuro das amazonas. Após séculos vendo as tribos ao seu redor sendo dizimadas, elas sabem que precisam agir rapidamente para garantir sua sobrevivência.

Mayara, a sacerdotisa mais respeitada da tribo, portadora do Escudo-Espelho e mãe de Werena, é quem lidera as amazonas nesse tempo de crise. Formando um grupo com as guerreiras mais experientes, ela parte imediatamente para o local apontado por sua filha, encontrando por lá o homem branco desacordado, com o rosto completamente inchado, cheio de hematomas, praticamente a beira da morte. Não há sinal do índo Ubiratan por perto.

O grupo de guerreiras volta à tribo com o prisioneiro. Nos dias seguintes ele é tratado pelas curandeiras, somente até ficar bem o bastante para ser levado às guerreiras. Os métodos de interrogação das amazonas são infalíveis.

Rodolfo revela que havia sido contratado por um trio de estrangeiros que estavam interessados nas lendas locais sobre as míticas guerreiras Amazonas. Eram ricos e influentes o bastante para comprar o apoio de aristocratas locais, donos de uma madeireira que operava já na floresta amazônica.

Mayara não tarda em organizar uma expedição para confrontar os inimigos, antes que se organizassem para invadir sua tribo. Werena, Taina e outras guerreiras mais novas não acompanham essa expedição, ficando aos cuidados da velha Yaci. Os dias passam e não chegam notícias das guerreiras. Werena sente que algo ruim aconteceu.

No sétimo dia após a primeira invasão, Werena se encontra com Ubiratan na floresta, fora da tribo. Ela não percebe, mas é seguida por Taina que notou seu comportamento estranho naquele dia. Ubiratan trás péssimas notícias que chegaram aos seus ouvidos.

— As guerreiras amazonas foram derrotadas pelo exército dos estrangeiros, formado por madeireiros e capangas armados. Os estrangeiros parecem interessados em artefatos das amazonas, inclusive, um de seus líderes, uma mulher chamada Maya, tomou para si um escudo que tem carregado como troféu. Ouvi dizer que outro deles, Tyler, fez prisioneiras. Enquanto o último, Shang, lidera o exército e planeja o ataque.

Werena escuta atentamente o relato de Ubiratan, se aquelas palavras fossem verdade teria de agir ela mesma e imediatamente. Ela leva uma mão ao queixo pensativa quando é surpreendida pelos braços de Ubiratan a envolvendo. Ele a encara nos olhos.

- Quando vou poder devorar esse belo corpo minha amazona? Notei que seus seios crescem... Mas eu lhe possuiria independente de seu sexo... Você me enfeitiça sem esforços - ele tenta beijá-la mas a Iara vira o rosto.

- Como pode pensar nisso depois que me dar tal notícia seu bruto! Me solte!

- Uma recompensa para seu fiel guacari, vamos só um beijo e te dou o que quiser, me tens em suas mãos, desejo-a cada dia mais, apenas uma migalha para um homem com instintos animalescos por sua carne de amazona...

Repulsivo, mas Werena não deixa transparecer. Sempre acreditou que seria uma amazona solitária, sem consorte, desfrutando apenas na irmandade das amazonas, por mais errado que pudesse soar sentia-se estranha em ser tão desejada mesmo sem utilizar as artes de Iara.

- Um beijo, e me levará a isso que chama de made-madeir-madeireira - seus olhos eram rígidos, tentava demonstrar autoridade sobre aquele homem. - Se libertar minhas irmãs sem ferí-las ou tomá-las contra vontade, lhe mostrarei o que é o verdadeiro êxtase - apesar de ser abraçada, ela notava o controle que exercia sobre Ubiratan, seus braços apertavam com menos força, mas seu membro se enrijcia quando os lábios se tocavam. Ele tinha gosto de manga doce na boca.

A língua da Iara percorria os lábios dele sutilmente, enquanto ele a segurava com firmeza pela cintura, e quando ele começava a descer para seus quadris ela o afasta.

- Temos um acordo - ele diz sorrindo.

Escondida entre as folhagens de uma árvore, Tayná, a irmã de Werena, observa toda aquela situação enojada. Havia seguido Werena desde que notou o comportamento estranho da "irmã". Ver  toda a troca de carinhos entre Werena e Ubiratã só trazia inveja aos sentimentos de Tayná pela Iara.

"Ela deve utilizar este poder a toda hora quando perde a sua 'flecha', imunda! Mas, também, olha o traste que ela arruma: grosseiro, arrogante, contador de vantagens. Aposto que sou melhor que ele em todas as suas proezas narradas aos quatro ventos. Inútil."

Tayná permanece escondida, enquanto Ubiratan e Werena percorrem trilhas ocultas pela vegetação amazônica. A umidade fazia o homem suar e encharcar suas roupas enquanto a amazona mantinha sua beleza intacta. Conversavam pouco, Ubiratan contava sobre sua vida mesmo sem ser requisitado, se orgulhava de suas caçadas, proezas contra animais selvagens e sua astúcia para improvisar armadilhas. Werena sorria as vezes, perguntava mais noutras, mas em maioria apenas o observava, até finalmente chegarem ao seu destino.

A madeireira é composta por um enorme galpão, no centro de uma área completamente desmatada de floresta. Pilhas de troncos amontoados a quase 2 metros de altura criam corredores dentro do galpão e há uma área vazia onde homens operam uma serra giratória que corta os troncos em tábuas menores, ao lado de uma única sala reservada para o chefe de operações. Fora o galpão, há dois barracões. Um deles repleto de camas, onde os trabalhadores dormem, e outro menor onde as ferramentas são guardadas.

Ubiratan informa a Werena sobre os inimigos e seus turnos.

Shang é um homem asiático de cabelos compridos, com uma roupa de aspecto militar repleta de bolsos e um cinto decorado com facas pequenas de arremesso. Na frente do dormitório, ele treina sete madeireiros em combate, enquanto seus cinco capangas mais experientes percorrem todo o perímetro da madeireira.

Na frente do galpão de ferramentas, há um tronco preso ao chão, nos moldes dos pelourinhos da colonização, onde estão presas por correntes cinco amazonas. As últimas sobreviventes do grupo de guerreiras de Mayara. Dois capangas passam por ali em suas rondas, mas quem as vigia de verdade é um homem enorme, uma montanha de músculos, de pele extremamente branca e cabelos loiros, tão longos quanto os do asiático.

A última líder estrangeira é Maya, uma mulher alta, musculosa, de cabeça raspada. Ela passa a maior parte do tempo na sala do galpão principal, mas de hora em hora sai de lá carregando o Escudo-Espelho das amazonas, faz uma ronda pelo acampamento, verifica o treinamento de Shang, conversa com Tyler e volta para sua sala.

A Iara esconde sua preocupação com as informações, sorri e pousa a mão sobre a face ângulos do guacari.

- Prove-me que é tão perspiscaz como uma onça, e que seus feitos são tão incríveis como me contou... Traga-me o escudo. Eu libertarei minhas irmãs, elas não irão confiar em você como libertador. Lhe encontro aqui e talvez mude a opinião delas a seu respeito.

Ubiratan move a cabeça com concordância e é surpreendido por mais um beijo de Werena, ele sorri como um garoto, até ser surpreendido.

— Que nojo — exclama Tainá — Sabia que seguindo você poderia assistir esta cena, mas não estava preparada para tamanha ojeriza.

A arqueira cospe no chão. Iria permanecer oculta, até que Werena confiou a Ubiratan a missão de recuperar o sagrado Escudo-Espelho de Jaci. Ela salta diante do casal, com o arco em riste, apontado para o homem.

— Como pode permitir que um imundo destes toque no nosso artefato sagrado, irmã? Ele não é digno de tal tarefa.

Werena abre a boca e estava pronta para despejar dardos certeiros na autoestima de sua irmã, mas decide fazer diferente.

- Seja a irmã mais velha e a rainha que está destinada a ser Tainá, eu lhe peço do fundo do meu coração. Do que vale as tradições e os artefatos, se o coração de nosso reino, a vida de nossas irmãs não for prioridade?

Tayná engole em seco. Não esperava esta resposta de Werena. Mais uma vez, ela se mostrava mais sábia que a arqueira e isso a deixava com mais inveja.

- Mas irmã... as tradições... um homem...

Werena pousa a mão do rosto de Tainá e sorri enquanto uma lágrima escorre de seu olho.

- Eu quebraria todas as tradições, me deitaria com qualquer homem, se você tivesse estivesse no lugar das cativas, e dependesse de mim ir ao seu resgate...

O espanto na cara da Tainá quase faz Werena cair na gargalhada, mas a surpresa logo dá lugar à raiva e ao asco. A arqueira segura com força o antebraço da Iara, afastando-o de seu rosto.

- Nunca mais toque em mim! Tudo bem, vamos sacrificar este pequeno detalhe, mas assim que ele recuperar o artefato, tomarei-o de suas mãos imundas.

- Ela lembra meu irmão mais novo... - Diz Ubiratan após todo o tempo em silêncio.

- Ela é a mais velha - Werena sorri e parte para sua missão. Tayná vai atrás dela e Ubiratan segue por outro caminho.

Werena se esgueira por trás dos dormitórios, sendo seguida por sua irmã. Ela avista três dos capangas protegendo o perímetro. Puxa o ar e seus olhos ganham uma luz dourada, como pedridas de ouro no fundo dum rio de águas cristalinas. Ela entoa o canto de sereia não muito alto. Os três se aproximam em fileira e a contemplam, estendem a mão para tocá-la, mas Werena se senta no chão. Eles acompanham, encostam uns nos outros e fecham os olhos até caírem em sono profubdo embalados por sonhos agradáveis e peixes dourados.

Tayná observa aquilo e sente inveja de como os madeireiros caem tão fácilmente nos encantos da irmã.

A amazona segue apreensiva com o coração disparado. Ela aguarda a próxima ronda e mais três homens surgem, quando veem sua figura correm com armas na mão, ela novamente tenta embala-los em seu canto, ela gesticula com as mãos e ordena que vigiem os três dorminhocos. Aquilo a faz ficar ofegante, fora necessário mais energia que o esperado. Ela sabe que precisaria de reforço para os seis restantes. Ela tira seu colar de sementes e os moi com os dedos até formar farelos que ela esfrega em sua pele ganhando uma cor avermelhada. Lembrava de quando colhera cada uma daquelas sementes antes do ritual da lua. Ela deixa uma lágrima cair. "Irmãs, irei salvá-las". Sua mistura de farelos de sementes começa a fazer efeito e um um odor adocicado emana de Werena ela vai de encontro com os últimos capagangas e seu líder que os treinava. Ela desfila despreocupada, dando passos firmes que fazem seus seios saltarem e seus quadris chacoalharem, seus negros cabelos dançam ao serem soprados pelo vento que espalha seu aroma arrebatador. Werena abre a porta do galpão e vai convidando os homens para entrar.

- Entrem entrem! Vocês estão trabalhando tão duro que seus membros devem estar mais ainda! Um agrado para homens tão disciplinados sim? - ela vê um entrar após o outro. Como um flautista ela conduzia e enfeitiçava aqueles ratos. Uma vez todos dentro ela diz fechando a porta:

- Eu volto em breve, vou chamar mais uma amiga para se divertir conosco, nos esperem nus! - ela da uma risadinha e os deixa no galpão. Suas irmãs precisavam de ajuda, mas tamanho daquele homem pálido a assusta, suas pernas tremem por não saber o que fazer, até ser surpreendida por Tayná que a encarava com uma carranca feia.

— Você é desprezível! Nunca me deitaria com estes vermes. Deixe o próximo comigo.

Tayná segue sozinha pelo acampamento, guiada pelas informações de Ubiratan, até ver suas irmãs presas em uma espécie improvisada de pelourinho. Aquela visão das amazonas subjugadas a enraivece de tal modo que sua fronte fica mais vermelha do que já é. Até que ela encara o algoz das prisioneiras. Tyler era o tipo de homem que não se via com frequência na Amazônia, o que fascina, de certa forma, Tayná. Sua raiva desaparece e se transforma em curiosidade, mas ela tem um dever diante dela e se mostraria superior à Werena: não só venceria o titã louro como o faria prisioneiro. Tayná pega a sua flecha especial imbuída com poderes venenos parasilantes dos sapos sagrados de Jaci e mira no coração do inimigo. Ela assobia, imitando um pássaro, para chamar a atenção de sua presa, e, assim que ele se vira, atira sua flecha envenenada.

Tyler escuta o assobio da Tayná e em seguida o sibilo quase inaudível da flecha indo em sua direção, mas não consegue reagir a tempo. A flecha rasga sua pele, penetrando fundo em seu peito. Seus olhos se arregalam e ele solta um rugido como o de um felino ferido. Tayná quase se assusta quando percebe que os olhos do homem a encontraram em seu esconderijo. Olhos raivosos como os de uma besta pré-histórica. Ele da um passo em sua direção, mas então suas pernas fraquejam e ele cai de uma vez no chão, paralisado finalmente.

Tayná espera poucos segundos para ter certeza de que o grande inimigo estava paralisado. Então se aproxima e usa a ponta afiada de uma flecha para libertar as irmãs. Apesar da emoção e alívio de serem salvas, as amazonas agem rapidamente, sabendo que não há tempo a perder. Tayná pega as cordas que as prediam e puxa um dos inúmeros troncos ao seu redor para perto do gigante loiro. As irmãs a ajudam a posicioná-lo enquanto ela usa sua perícia com cordas para amarrá-lo de maneira humilhante no tronco.

Quatro das amazonas carregam o tronco com o prisioneiro, enquanto Tayná indica o caminho até Werena, já mantendo uma flecha preparada e sempre atenta.

Quando todas as irmãs se reúnem em um local seguro, finalmente podem se abraçar e compartilhar a felicidade de estarem a salvo. Agora esperavam por Ubiratan. O destino das amazonas recaía sobre os ombros de um guacari de desejos incontroláveis.

[Resolução]

• Distrair o exército de Shang. ND 5 (1 por capanga. ND máximo 17).
Werena: Canto de Sereia ♠ 3 (3 alvos sem custo)  + Canto de Sereia (3PM) (3 alvos com custo) + Sedução ♠ 3  + QO = 21.
Sucesso! Werena ganha 1PE.

• Salvar as prisioneiras de Tyler. ND 8 ( 1 para cada capanga não distraído no teste anterior).
Arquearia   ♠ 3  + 7C = 11.
Paralisia: 2 PM, restam 0 PM para Tayná.
Sucesso! Tayná ganha 1 PE.

• Recuperar o escudo de Maya. ND 12.
Ubiratan: Perícia Arquearia  + ♠ 3  + 9C = 12
Sucesso! Werena e Ubiratan recebem 1 PE.
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MensagemAssunto: Re: Episódio 06 - O Escudo-Espelho   Episódio 06 - O Escudo-Espelho EmptyQua Abr 22, 2020 12:49 am

ATO 3

Momentos antes, Ubiratan se aproximava da sala privada de Maya. Se tudo desse certo ela sairia de lá ostentando o escudo, impressionaria Werena e todas as amazonas confiariam nele.

Ele colocava uma flecha no cordão de seu arco e se prepara. Ele faz uma prece a Oxóssi.

- Caboclo das matas, santo da caça, que eu seja certeiro e que uma única flecha garanta uma caçada limpa e eficaz. Me ajude para que eu conquiste meu maior espólio aquela maldita amazona que tem meu coração - sussurra e na hora marcada a porta se abre ele prende a respiração.

A enorme mulher sai da sala. Ubiratan já a havia visto antes, mas ainda assim estava impressionado. Tinha medo de errar sua flecha e ter que enfrentá-la em um combate corpo-a-corpo. Ele espanta esses pensamentos de sua mente, focando em como Werena ficaria feliz com seu sucesso e no quanto todas as amazonas deveriam a ele.

Mesmo portando o artefato mágico defensor das amazonas, Maya é pega de surpresa pela flecha do guacari que entra por seu olho esquerdo e afunda em seu crânio, matando-a instantâneamente. Ubiratan tem um sorriso sádico.  Seu membro baba de animação.

- Quando Werena tiver esse escudo vai cavalgar em mim com tanta alegria que me transformarei num cavalo selvagem, colocarei um filho em sua barriga e arrastarei para morar comigo... Ah se vou.

Ele se aproxima do escudo e seus olhos brilham, quase reluzindo a energia mística que emanava daquele objeto. O escudo era verde-espelhado como água cristalina no centro e com as bordas de um metal azulado como se fossem margens de um lago. Ubiratan pega o objeto do chão, enquanto sua mente entra num turbilhão descontrolado de pensamentos, prevendo inúmeras possibilidades que aquilo o traria.

* * *

Tayná já estava impaciente com a demora do guacari, quando Werena o avista.

- Ali vem Ubiratan.

As amazonas se amontoam para ver a chegada do homem com seu escudo sagrado. Tudo parecia certo. Apesar de todo aquele infortúnio, voltariam para casa juntas e com sua relíquia.

- Tem algo errado - Tayná é a primeira a notar.

Era quase impossível de perceber a fina camada de energia que circundava o corpo de Ubiratan. Mas as amazonas reconheciam aquele efeito. Era o poder do escudo-espelho. O campo de força imprenetrável que protegia suas guerreiras por séculos, refletindo os ataques dos inimigos, agora caíra nas mãos de um homem com más intenções. Em sua mão direita, trazia uma arma de fogo comumente usada pelos brancos, um símbolo claro de suas intenções.

Protegido pelo escudo e com os ouvidos cheios de pano das roupas que rasgara de Maya, Ubiratan vinha não como um aliado, mas como um inimigo que desejava subjulgar as amazonas e tomá-las para si. Ainda de longe, Ubiratan atira na direção das amazonas, fazendo-as se dispersarem. As cinco amazonas que eram prisioneiras anteriormente, se escondem, pois estavam ainda muito fracas para lutar, deixando para trás o corpo paralisado de Tyler que, apesar de ainda estar amarrado ao tronco, logo poderia acordar. Cabe a Tayná e Werena derrotar o guacari.


Quando vê Ubiratan se aproximando armado, Werena fica com o coração apertado. Como poderia ter confiado naquele homem? Tola... Lançou seu charme, mas quem fora manipulada acabou sendo ela mesma. Lembrou do sermão que dera em Tayná mais cedo, não poderia se culpar por colocar a vida de suas irmãs como prioridade, mas a traição sempre deixava um gosto amargo na boca. Ela olha no fundo dos olhos dos olhos da irmã, teriam que agir coordenamente e seguindo seus instintos.

Já Tayná está séria, mas se regojizando por dentro. Não que estivesse gostando da situação, mas ver Werena tendo falhado em seu julgamento sobre Ubiratan e, principalmente, por ela mesma estar certa sobre as intenções do guacari, fazia nascer um pequeno sorriso no canto de sua boca, por mais que Tayná tentasse esconder. Ela já imaginava voltar ao Lago de Jaci e garantir a posse do Escudo-Espelho, dada a desonra a que Werena se submeteu ao permitir que Ubiratan portasse o artefato e a traído logo em seguida. Seria uma glória sem dimensões triunfar sobre Werena desta maneira.

Ubiratan atira duas vezes na direção das duas amazonas. As duas rolam para lados opostos, desviando dos projéteis bem a tempo. Tayná rola para trás do corpo gigantesco de Tyler, usando-o como escudo e aproveitando para reforçar os nós que o prendiam, passando mais corda em seus membros e o amarrando de maneira que ficasse desconfortável toda vez que tentasse se mexer. O que elas menos precisavam era de mais ou macho a solta naquele momento. Perto dali, Werena pensa rápido e finge que foi atingida, soltando um grito de dor e agarrando sua perna, arrastando-se como se estivesse impotente.

- Me desculpa, amada Werena. Sei que você foi a única que me tratou bem, mas o veneno de suas irmãs nos seus ouvidos eram um risco muito grande para mim. Você entende como dói ser rejeitado. Elas não deveriam ser tão más, certo? Por isso, eu prometo que quando isso acabar, vou fazer de você minha rainha. Todas as amazonas nos servirão.

Enquanto se aproxima da amazona "ferida", Ubiratan recebe uma saraivada de flechas de Tayná. Todas as flechas batem inefetivas contra seu campo de força e são refletidas. Uma delas cai perto de Werena, que aproveita para se armar enquanto espera a aproximação do guacari.

Ubiratan vira sua atenção para Tayná, dando as costas para Werena. Ele atira contra a arqueira, mas ela se esconde atrás do corpo de Tyler. Uma das balas atinge o ombro do gigante loiro, fazendo-o acordar gritando em tremanda dor, mas Tayná permanece intacta.

Werena aproveita o momento e se levanta num pulo. Ubiratan só sente a ponta gelada da flecha penetrando sua nuca devagar, até aparecer do outro lado de seu pescoço. O escudo-espelho podia conter ataques, como socos ou flechas atiradas, identificados pela velocidade e impacto que os nós mágicos identificavam a redor do usuário. Porém, ao se aproximar o bastante e enfiar a flecha devagar no guacari, Werena se aproveita de uma das falhas dessa magia, que não protegia o usuário de um pequeno impacto, como não o protegeria de um carinho.

Os olhos de Ubiratan se arregalam. Ele tosse sangue sobre o seu próprio corpo e cai para trás, soltando o escudo e a arma no chão, finalmente desprotegido. Werena contém sua queda e se agacha com o guacari em seu colo.

- Ubiratan, a sua vaidade o levou ao fim. Eu confiei em você, o acolhi em suas falhas, dei a oportunidade de se redimir e você me me apunhalou pelas costas e aqui esta a retribuição na mesma medida. O destino é cíclico, que a lua ilumine sua trajetória no mundo dos sem-vida. Eu teria lhe apresentado um novo mundo, mas você preferiu morder a mão que o alimenta - Werena diz impassível, não choraria, detestava a ideia de derramar uma lágrima pelo primeiro homem que a desejou, ela toma o escudo - Uma amazona fiel ao seu coração e aos instintos de seu ventre jamais será derrotada...

Enquanto Werena observava a vida se esvair dos olhos do guacari, uma flecha penetra seu olho esquerdo, matando-o imediatamente. Tayná se levata de seu esconderijo e olha enojada para a irmã com o inimigo em seus braços.

[Resolução]

• Derrotar Ubiratan: ND 9 para ataques corpo e corpo e 12 para ataques a distância, mas só se derem um jeito de penetrar seu escudo.
Werena: ♠1 + 8E = 9. Sucesso! Werena ganha 1PE.
Tayná: ♠4 + 6♣ = 10. (Não surte efeito porque o escudo ainda estava ativo) Não contabiliza uso da carta.
Tayná: ♠4 + Q♦ = 16. (Segundo tiro) Sucesso! Tayná ganha 1PE.

• Desviar dos ataques de Ubiratan: ND 5.
Werena: ♠1 + 4P = 5. Sucesso! Werena ganha 1PE.
Tayná ♦2 + 8♠ = 10. Sucesso! Tayná ganha 1PE.

• Impedir que Ubiratan liberte Tyler: ND 6.
Tayná: ♣2 + 3♣ + 4(Sobrevivência) = 9. Sucesso! Tayná ganha 1PE.


Última edição por Anfitrião em Dom maio 03, 2020 5:32 pm, editado 1 vez(es)
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MensagemAssunto: Re: Episódio 06 - O Escudo-Espelho   Episódio 06 - O Escudo-Espelho EmptyDom maio 03, 2020 7:24 pm

CENA FINAL


Nhamundá, Amazônia Brasileira, 1914

Mesmo tendo saído vitoriosas no confronto da madeireira, o clima em Yaci-Taperê é repleto de tristeza e luto. Mais uma vez, as amazonas se reúnem ao redor do Espelho da Lua, que essa noite escura de lua nova, não reflete brilho algum, como se mostrasse a elas que esse era o fim de um ciclo para seu povo e que a partir daquele dia tudo seria diferente.

No centro do lago, as guerreiras, que haviam corajosamente dado sua vida para proteger suas irmãs, estão deitadas em canoas, cercadas por velas, com seus corpos frios pintados ritualisticamente com símbolos e padrões que as protegeriam no pós-vida. No meio de todas as canoas, está o corpo sem vida de Mayara, a antiga protetora da tribo, com o Escudo-Espelho, cuidadosamente colocado entre seus braços, finalmente no local em que pertencia.

O canto fúnebre das amazonas percorre a serra e é o único som que pode ser ouvido em quilômetros. Toda a natureza parece chorar pelas guerreiras mortas. Conforme a música avança, as águas do lago começam a se agitar. Padrões circulares são formados ao redor das canoas. Aquelas com olhos mais aguçados logo percebem que são imensas serpentes que dançam ao redor das companheiras mortas, saudando-as ao seu lago, o lugar de descanso eterno das amazonas virtuosas.

Quando a canção chega ao seu fim, a dança circular das serpentes forma redemoinhos que puxam as embarcações para o fundo do Yaci-Waruá. A matriarca Yaci se levanta e ergue os braços, chamando atenção para si.

— Nossas irmãs se reuniram com nossas ancestrais e estão finalmente em paz como guardiãs de Yaci-Taperê. Sempre que olharem para esse lago, lembrem-se da coragem daquelas que já se foram. Em momentos de tristeza, como esse, lembrem-se que o sangue delas correm em suas veias e são vocês quem mantém seu legado.

Ao lado de Yaci, estão sentadas Tayná e Werena. A anciã acaricia suas cabeças afetuosamente enquanto fala.

— Nesta noite, o ciclo de Mayara finda para iniciar o ciclo de uma nova portadora. Assim como a lua, que volta a ser cheia, depois de cumprir seu ciclo natural, uma irmã precisa surgir para ocupar o lugar de nossa irmã que hoje deita-se com suas ancestrais em Yaci-Waruá. A Serpente da Lua, grande anaconda que cresce a partir da despedida de suas protetoras, clama para um desafio que escolherá uma de nós que levará consigo o Legado das Amazonas. Nossas irmãs estão preparadas e adentrarão as águas sagradas do Espelho da Lua e retornará não mais como uma amazona, mas como Icamiaba, a portadora de nossa relíquia sagrada! Aquelas que quiserem se provar dignas e enfrentar o desafio, levantem-se e se apresentem.

— Sou Tayná, arqueira amazona, filha de Mayara, flecha certeira, donzela guerreira e senhora da caça – fala a amazona, que até então mantinha-se quieta, apenas murmurando os cânticos para a passagem da irmã morta — Venho disputar o desafio e me provar digna de ser a herdeira por direito do Legado das Amazonas. Apenas uma mulher com minhas qualidades é capaz de grande honra.

Tayná deixa o arco e as flechas diante de Yaci.

— Tem as minhas armas, grande matriarca. A partir de hoje, deixo de ser a arqueira para ser a escudeira de Yaci e carregarei a honra da Icamiaba.

Serva e aprendiz mais próxima da matriarca Yaci, Werena passa todo o rito fúnebre ao seu lado. A lua  nova e seu brilho desapareceu do céu assim como os seios e a vulva da iara. Ela vestia uma longa túnica semi transparente que revelava a silhueta confusa em lapsos quando passava por tochas. Um véu oculta seu rosto que se desmanchava em lágrimas silenciosas e incessantes como uma singela nascente de água doce.

Ciente do rito, havia passado os últimos dias reclusa em meditação profunda, sem que ninguém pudesse ver sua metamorfose. Desde a volta com o escudo nenhuma palavra foi pronunciada pela iara que respira fundo recebendo a carícia afetuosa de Yaci, aguardando sua fala e dando espaço para Tayná fazer seu discurso. Por fim, Werena se levanta graciosa sem fazer alarde. Ela desliza o véu de sua face e mostrando um rosto totalmente pintado de negro e brilhantemente úmido de lágrimas. Deslizando os dedos por um delicado nó sob a nuca, ela desata a túnica que vai ao chão revelando um perfeito corpo de rapaz, de músculos torneados, curvas esculpidas e um longo picumã que brilha sob a luz das tochas, que chega aos quadris arredondados e dança ao mais suave mover das brisas noturnas. Por fim, a grande provação para sua irmã, pintado com um denso vermelho de urucum, seu falo pendia, carnudo e relaxado. Sua apresentação dramática faz todas as amazonas sentirem arrepios. Ela abre sua boca lentamente e ronrona cada palavra numa vibração tão profunda como o lago diante de todas.

— Nascida pelo ventre de Mayara, irmã de todas vocês, mas acima de tudo serva da grande lua. Me beijou no espírito e na alma e me convidou a acompanhar suas mudanças no céu com meu corpo. Desde muito jovem estou sob o cuidado das sacerdotisas amazonas onde encontrei o prazer de ser o receptáculo da vontade de nossa Grande Mãe Lua. A matriarca e inúmeras de vocês são testemunhas que o espírito se manifesta em mim e, durante as últimas noites, a lua tem me arrebatado em meu sono e fortificado a minha fé para que me entregue por inteiro nessas águas. Hoje Werena morre, quem sairá das águas será a nova serva das amazonas, a escolhida para reinar e acolher toda amazona. Toda amazona – ela repete a última frase olhando profundamente nos olhos de Tayná de forma altiva. Iria sacudir suas estruturas.

Após a apresentação de Tayná e Werena, nenhuma outra amazona se levanta para encará-las no desafio. As duas já haviam se provado contra os madeireiros e eram igualmente respeitadas e temidas pelas outras guerreiras. Ao seu redor, suas irmãs começam a cantar outra música. Uma canção antiga reservada somente para aquele momento, falando da coragem e virtude que seus antepassados tiveram para construir sua tribo ali. Assim que a canção finda, as duas saltam no rio, competindo pela honra de proteger a tribo.

Tayná prepara-se para entrar no lago, aquecendo o corpo para entrar na fria água do lago que levava as suas irmãs para o Além. Assim que as demais amazonas se calam, ela corre até onde consegue, saltando as águas rasas e nadando quando o lago se mostrasse profundo. Saindo na frente, Tayná nada batendo muito as pernas, de modo a jogar água na cara de Werena, sabotando-a e tentando provocar um atraso no nado da rival. Mesmo com Tayná na dianteira, Werena não se afoba, ela continua afundando de olhos fechados, libera a tensão de seu corpo e convoca a energia espiritual do lago. Imersas no lago, as duas mal conseguem ver um palmo à sua frente. As águas escuras tornam a tarefa de encontrar o Escudo-Espelho quase impossível. Para piorar, as duas sentem as imensas serpentes nadando ao seu redor. Sem sua ligação com a lua, Werena demandaria mais energia para realizar seu feitiço, mas estava certa sobre seu destino. Ela estende os braços com as mãos espalmadas e um vendaval começa a se formar à sua volta, movendo as águas num rodopio violento e expelindo toda matéria próxima da iara. Serpentes, água, vegetação são varridas para longe de Werena, como uma força centrífuga a partir do corpo da iara. Mesmo que Tayná se debatesse para atrapalhar Werena, a magia da sacerdotisa é mais forte que a força física que a arqueira colocava em seu nado. O vendaval tira Tayná da disputa, forçando-a a seguir outro caminho até o Escudo-Espelho.

O redemoinho inverso provocado pelos ventos espirituais de Werena faz com que Tayná encontre a Anaconda Amazona antes de empunhar o Escudo. A arqueira mergulha, prendendo a respiração e conseguindo manter o fôlego, tentando se desvencilhar dos movimentos da Serpente da Lua

No fundo do lago, Werena caminha sem obstáculos, protegida pelos ventos espirituais. O truque faz com que ela encontre rapidamente o Escudo, repousa no deito lacustre, sem resquícios dos corpos das amazonas caídas. Refletindo como se fosse a lua cheia, Werena apanha o artefato em suas mãos, empunhando seu poder, provocando um tênue brilho esverdeado que cobria todo seu corpo. O vento espiritual finalmente cessa, fazendo as águas do lago voltarem ao seu normal. Nadando até a superfície para chegar à margem do lago, Werena vê a Serpente da Lua dando o bote em Tayná, enroscando-se na arqueira, fazendo-a sufocar. Por mais que sentisse que a arqueira a desprezasse, a nova Icamiaba deve proteger todas as amazonas sem distinção. Invocando um dos poderes do Escudo-Espelho, Werena utiliza a magia do artefato, chamando a atenção da Serpente da Lua, que deixa o corpo desacordado de Tayná para trás.

Criando um campo de força que a protege, Werena fica imune ao bote da Anaconda Amazona. Por mais que a serpente se enroscasse na Icamiaba, havia um grande espaço à volta de seu corpo, incapaz de ser sufocado. Tranquila com sua conquista, Werena é livre para chegar até Tayná e carregá-la com um braço, para finalmente emergirem juntas, sempre mantendo sua postura inabalável, meditativa e conectada com a divindade lunar, erguendo o escudo expondo a conquista com uma mão, enquanto a outra segurava uma desacordada. A Serpente da Lua reconhece sua derrota e, da margem, Mayara anuncia a nova Icamiaba.

— Werena da Lua Cheia! Aquela que foi abençoada e amaldiçoada com as fases da Lua. O legado de Mayara passa para sua própria filha, Werena, a nova Icamiaba!

Em outros tempos, Werena faria um discurso agradecendo sua conquista, falante como era, mas, agora, está comprometida com o Escudo-Espelho e o título de Icamiaba, preferiu se resguardar. Ela está orgulhosa de si, afinal, é a maior honra dentre as amazonas, mas sabe que precisa ser humilde. Sua postura, portando o artefato, é visível. Ela agradece apenas com sorrisos e só fala quando muito necessário.

As irmãs amazonas, pelo contrário, fazem festa. Música, dança e gritos celebram a vitória de Werena, que é carregada nos ombros para o centro de Yaci-Taperê. A festança desperta Tayná, esquecida às margens de Yaci-Waruá. Ela sabe o que aconteceu e reconhece a derrota, mas isso é diferente de festejar a vitória de sua adversária. Sua raiva a faz se afastar, iria descontar sua frustração em algo ou alguém. Tayná não se conforma com a conquista de Werena, sempre achou que ela não era digna de ser a Icamiaba. Sua frustração a leva até Tyler, o estrangeiro capturado na retaliação das amazonas. Werena já teve suas aventuras com Ubiratã, agora morto, e Tayná também teria este direito. Iria dominá-lo e fazer do cativo uma presa, soltá-lo e caçá-lo como o animal que ele é. Seus gritos jamais seriam ouvidos sob o barulho da festa de Werena.

[OBJETIVOS]

• Encontrar o escudo no lago (ND 10).
• Tayná: ♠ 4 + 6 ♣ = 10. Sucesso! Tayná ganha 1 XP.
• Werena: Magia Ventos Espirituais 2PM. Sucesso! Werena ganha 1 XP.

• Impedir a irmã de vencer.
• Tayná nada na frente de Werena e joga um 3 ♣ para aumentar em o ND em +1
• Werena intimida Tayná com seu discurso e joga um 6♦ para aumentar o ND em +1

• Se defender dos ataques (ND 11 com escudo e 21 sem escudo).
• Tayná: ♦ 2 + 7 ♠ = 9. Falha!
• Werena: Magia Ventos Espirituais 2PM. Sucesso! Werena ganha 1 XP.

• Proteger a si e a irmã dos ataques. (Somente se tiver escudo. ND 16).
• Werena: Barreira do Escudo Espelho 2PM. Sucesso! Werena ganha 1 XP.
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