Após a queda da mítica Atlântida, poderes são aprisionados no Cometa-Prisão e a libertação deles dão início a uma nova ordem.
 
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 Episódio 04 - As Sandálias da Velocidade

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MensagemAssunto: Episódio 04 - As Sandálias da Velocidade   Episódio 04 - As Sandálias da Velocidade EmptySex Mar 06, 2020 12:46 pm

Onde Kitok, o herdeiro Kucha, herda as Sandálias da Velocidade no Reino de Wanyama, uma ilha misteriosa no meio do Lago Vitória, na África.


Última edição por Anfitrião em Qui Jan 07, 2021 1:35 pm, editado 5 vez(es)
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MensagemAssunto: Re: Episódio 04 - As Sandálias da Velocidade   Episódio 04 - As Sandálias da Velocidade EmptySex Mar 06, 2020 1:22 pm

Ato 1
 
Lago Vitória, África Oriental Alemã, 1912
 
As Terras de Wanyama formam uma ilha mística dentro do Lago Vitória, na África. Suas margens são cobertas por uma magia ancestral que impede os humanos de enxergarem-na ou se aproximarem dela. O lugar é como uma África em miniatura, com dunas ao norte e florestas ao sul, assim como montanhas e lagos diversos. Suas margens são guardadas por uma tribo de homens capazes de se amalgamarem com crocodilos e outros animais aquáticos, os Kafi, responsáveis por impedir a aproximação de qualquer embarcação mundana que perca o rumo e se dirija à ilha. Assim como os Kafi protegem a água, os Bawa patrulham o ar. Embora nenhum homem tentou sobrevoar o Lago Vitória, os Bawa cumprem este papel de protetores do ar, também servindo como mensageiros. Embora estas duas tribos sejam importantes para a conservação de Wanyama, não chegam perto da população dos Kwato. Esta é a tribo com mais representantes no Reino: são homens que se mesclam com todo tipo de animal que vive em se alimenta de plantas. Porém, a realeza de Wanyama é constituída pela tribo Kucha, a tribo dos predadores, que se alimentam de sangue, dos felinos em especial.

Foi na tribo Kucha que Kitok nasceu. Seu pai, Mfalme, um leão, comanda os ferais como seu rei, mas, embora Kitok fosse considerado um príncipe, somente poderia herdar o trono se também se mesclasse a um felino. Os três objetivos principais na vida de Kitok sempre foram fêmeas, manter seu corpo sempre bem treinado e tornar-se um feral. Nem sempre as prioridades seguiam essa mesma ordem. Desses objetivos, o jovem kucha já era perito em "acasalar" e treinava seu corpo constantemente, tornando-se compulsivo por manter a forma física. Porém, assumir a forma animal não dependia apenas dele, precisou esperar até o momento de seu ritual. O jovem estava se preparando para sua passagem para a vida adulta, quando finalmente sairia de Wanyama para percorrer a África, sozinho, e, assim, conquistar seu totem animal. Somente depois de ter se mesclado com o animal, poderia retornar a Wanyama e garantir seu lugar como futuro rei.

Na noite anterior ao seu rito de passagem, Kitok reuniu algumas de suas fêmeas mais "dedicadas" para uma despedida em grande estilo. Acasalar acalmava a ansiedade do jovem kucha. Acordando mais cedo que todos, observando as fêmeas amontoadas em sua cama, admirava seu feito enquanto vestia-se. Na manhã seguinte, é chegada a hora, Kitok é recebido e se mantém em silêncio, para ouvir o discurso de seu pai, o rei.

—Meu filho – fala Mfalme – É chegado o dia. Lembro-me de quando tinha a sua idade e vinha de uma linhagem de leopardos, quando disse para mim mesmo que retornaria como um rei. Aqui estou eu, não é mesmo? E hoje, você tem a responsabilidade de continuar este legado. Desejo-lhe não sorte, mas força e perseverança para garantir o contato com o leão assim como eu o fiz no passado. Agora vá!

Enquanto seu pai lhe falava, seus pensamentos estavam nas aventuras que teria África a fora, quantas fêmeas mais iria conquistar após isso. Kitok se despede de sua família e amigos. Um dos guardas Kafi transforma-se em um enorme crocodilo, para que o príncipe chegue em segurança ao continente. Seria seu transporte até chegar à terra firme. E, nos céus, Zazel, uma bawa flamingo, voava para relatar as conquistas de Kitok ao rei.

Toda a plebe Kucha ovaciona Kitok, jogando-lhe colares de boa sorte feitos de flores, folhas, frutos, penas e ossos, o que emociona o príncipe, pois não esperava tais presentes do povo.  Ansioso por tudo o que poderia viver a partir dali, mostra-se surpreso com o afeto da plebe, que o deseja sorte. Numa demonstração de agradecimento o jovem herdeiro recolhe do chão algumas frutas, guardando-as em sua aljava, um colar de flores que lhe chama a atenção e o coloca no pescoço e um dente afiado, que ele coloca no vão do dedo e ergue os braços num movimento de vitória.

As fêmeas que passaram a noite com ele, chegam correndo na despedida, para uma última homenagem, mostrando os seios e acenando, quase fazendo Kitok retornar. A festa de despedida fica para trás e Kitok vê-se sozinho sobre o dorso de um enorme crocodilo e sendo assistido à distância por Zazel. As névoas que escondem Wanyama dos olhos dos homens também embaçam a visão de Kitok e ele se sente mais sozinho ainda. O crocodilo que o transportava nadada na superfície da água, seus pés praticamente não molhavam. Ele portava uma bastão em mãos, um pequeno escudo que mais parece um enfeite do que um equipamento e uma faca na cintura, esta sim, bem útil e afiada, no qual era muito habilidoso em seu uso, além das oferendas que pegou na partida.

À medida que avança rumo ao seu ritual, a neblina ofusca sua visão, pouco a pouco ele vai sentindo a água molhar mais seus pés e, de repente, perdido em seus pensamentos de glória, Kitok é surpreendido com uma queda brusca no lago, ficando à deriva. Seu parceiro crocodilo simplesmente submergiu e ele se desespera, afinal, deveria chegar em segurança ao continente. Boiando e procurando entender o que acabava de acontecer, ele é surpreendido por uma bocarra enorme e repleta de dentes afiados.

— Traidor!

O réptil avança feroz e rapidamente sobre o kucha, aquele era seu ambiente e Kitok era uma presa fácil para ele. Nadar seria ineficaz. Kitok prende a respiração e submerge. Como felino, detestava água. Sua pele arrepia e ele arranca a peça de roupa que lhe cobria. Acreditando que foi traído pelo crocodilo, Kitok prepara seu bastão e o enfia na boca do réptil assim que este ataca, acoplando o bastão de modo que suas mandíbulas não fechassem. O crocodilo dá diversas voltas sobre si mesmo, girando seu corpo alucinadamente, na esperança de se livrar do bastão. Com um movimento brusco, o crocodilo acerta o jovem com uma rabada na perna. Kitok rola dentro do turbilhão de água provocado pelos movimentos do kafi e estava pronto para contra-atacar o inimigo. Kitok mira os olhos do predador, golpeando com o escudo repetidas vezes em um curto espaço de tempo. O crocodilo recua, submergindo para abaixo de Kitok, ainda sem se livrar do bastão. O feral aproveita o mergulho para se afastar.

A costa não estava muito longe, ele podia ver uma praia à frente. Desesperado, ele usa sua compleição física para chegar em terra firme e fugir de um novo ataque. Atordoado, Kitok chega à margem e olha para trás. Pelo movimento da água, Kitok percebe que ainda estava em apuros e o crocodilo logo o encontraria. Após a surpresa e susto, ele caminha para uma área de floresta, onde Kitok sabia que o crocodilo teria dificuldade de persegui-lo voltando-se ao objetivo que o levou ali. Seus primeiros momentos fora de sua tribo, mostraram-lhe que a vida não era tão simples e talvez não seria tão fácil como imaginou.

Kitok havia sido traído. Seu trajeto foi interrompido pelo “barqueiro” que deveria levá-lo em segurança ao continente. Ele estranha a não intervenção de Zazel, se não fosse atlético o suficiente, agora poderia estar morto.

— Kitok! Está bem?

— Estou bem! Não graças a você - Kitok responde à bawa com desconfiança.

— O que importa é que esteja a salvo. Vá procurar o totem. Eu ficarei aqui observando e, a qualquer sinal de perigo, interferirei - diz Zazel - Não o fiz antes pois você se mostrou definitivamente capaz, mas devo lhe informar que não foi traído. Aquele era apenas o primeiro de uma série de testes. E agora eu o parabenizo pelo sucesso.

Kitok assente e usa seus instintos para a sua empreitada, adentrando a mata destemido. Silencioso, alerta e atento aos sinais, o jovem procura um leão para derrotá-lo. Utilizando-se de todo treinamento que recebera, ele rastreia pegadas no chão, tenta manter-se escondido e avança selva adentro. Após algum tempo caçando, ele encontra um bando de leoas pronta para a caça. Rapidamente as fêmeas cercam uma zebra e não dão chances para que escape. Um das leoas carrega o corpo da presa pelo pescoço para o restante do bando de leões. Kitok observa os jovens felinos brincando, as demais fêmeas sempre atentas e agrupadas e os machos descansando. Não demora para que Kitok perceba qual deles é o macho alfa. O maior, mais forte e também mais preguiçoso, sem ser incomodado. Ele se aproxima do abate e é o primeiro a desfrutar da refeição. Paciente, o jovem aguarda o momento até que ele fique sozinho, para atacá-lo. 

— Finalmente!

Kitok circula toda a cena, a espreita, pronto para seu ataque. Quando o alfa sacia sua fome, deixa o resto para os demais e procura um lugar para repousar. Sorrateiro o jovem kucha aproxima-se.

— Que lindo! Que fera enorme! Jamais teria chances frente a frente com ele. A hora é agora - Kitok sabe exatamente onde atacar para finalizar o leão.

Ao amarrar sua adaga em seu braço, tornam-se uma coisa só. E é com esta arma que ele ataca de forma fatal. Saltando e cravando a adaga no torso do leão, perfurando exatamente onde fica o coração do felino, Kitok teme apenas que o rosnar de sua presa não atraia os demais leões do grupo. Porém, é exatamente isso que acontece. O rugido do leão chama a atenção das leoas, que param imediatamente a sua refeição e acodem ao macho alfa. O alfa se afasta, sangrando, enquanto as fêmeas rodeiam Kitok.

Encurralado, Kitok prepara-se para o ataque. Ele mesmo é um feral alfa e sabe que a melhor defesa é o ataque. A primeira começa o ataque em conjunto. Suas garras rasgam o ar, pois Kitok desvia, ao mesmo tempo em que contra-ataca e desfere um golpe no torso da primeira leoa. Mas a segunda e a terceira atacam em conjunto, uma cravando suas mandíbulas no ombro de Kitok, enquanto a outra rasga a perna do kucha. O jovem debate-se e se livra de ambas, mas logo outras duas leoas se aproximam e ele vê também seu fim chegando.

Kitok fecha sem olhos esperando pelo seu final, quando garras finas fincaram-se em seus ombros e, num impulso repentino, foi içado para cima da savana, ao mesmo tempo em que as garras das leoas rasgavam o ar sob seus pés. Atordoado, ele olha para cima e visualiza a silhueta feminina de Zazel em sua forma feral, uma bela mistura de mulher e flamingo. Parecia uma harpia mitológica, mas não era horrenda, ao contrário, sua plumagem cor de rosa combinava bem suas garras finas quase lilases.

Zazel, no entanto, assim como a maioria dos Bawa, não era exatamente robusta para aguentar o peso de um homem adulto, mesmo em sua forma feral, por muito tempo. Atravessou a savana até se distanciar da alcateia de leões e chegou a um rochedo com respiração muito ofegante e quase desfalecendo.

 [OBJETIVOS]

·       Enfrentar o Crocodilo: ND10.
:diamonds:3 + ♦K = 16. Sucesso! Kitok ganha 1 XP.

·       Nadar até a terra: ND6.
:hearts:3 + ♥5 = 8. Sucesso! Kitok ganha 1 XP.

·       Em terra, procurar pelo seu totem e conquistá-lo (seja matando-o em combate, seja cativando-o): ND 14.
:spades:4 + :spades:5 = 9. Falha. Kitok perdeu 2 Pontos de Vida. Kitok tem apenas 1 Ponto de Vida.





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MensagemAssunto: Re: Episódio 04 - As Sandálias da Velocidade   Episódio 04 - As Sandálias da Velocidade EmptyQui Abr 16, 2020 10:06 pm

Ato 2


Lago Vitória, África Oriental Alemã, 1912

Zazel olhava para Kitok, prostrado ao chão. A bawa ofegava, suas asas doíam por ter carregado o felino até o rochedo. Sua compleição física não estava preparada para um esforço tão grande. Kitok pesava duas vezes o que pesava o frágil e leve corpo da flamingo. Seu olhar era de pena da consternação de Kitok. O orgulhoso felino havia falhado em sua missão, não poderia voltar até as terras do Reino.

Kitok estava visivelmente abalado, seu orgulho ferido, seu sangue fervendo de frustração. Ele olha para Zazel, a fúria visível em seu rosto.

— Me deixe! Me deixe para trás! Volte a Wanyama sozinha - ele grita com Zazel.

A flamingo se afasta, assustada. Ela sabia o quão vaidoso Kitok é, mas não esperava aquela reação. A bawa só se deu conta da fúria cega do felino quando este destruiu um tronco com apenas um golpe.

— VÁ! E diga a todos que eu morri. Kitok pereceu! Ele não existe mais!!!

Zazel cobre seu corpo com o manto característico dos bawa, um tecido com o qual ela se torna capaz de voar, mesclando com seus próprios braços, transformando-os nas asas rosadas de flamingo. O pássaro alça voo do rochedo, deixando para trás o inconsolável Kitok. Ganhando altura, ela não olha para trás, apenas ouvindo os lamúrios do felino.

Os punhos trêmulos do felino socavam a árvore derrubada. Golpe atrás de golpe, tendo como combustível uma ira incontrolável. A raiva de Kitok concede forças para destruir o resto da árvore. Sua fúria e lamento eram ouvidos por quilômetros, assustando até mesmo a alcateia de leões que ele tinha tentado conquistar como totem. Ele desce o rochedo correndo por entre as pedras soltas, ora caindo, ora saltando entre frestas. Suas poucas roupas rasgando nos espinheiros, enquanto ele mesmo deixava um rastro de destruição por onde passava, afastando quaisquer animais das redondezas, que procuravam suas tocas ou se dispersavam, até mesmo provocando o estouro de uma manada. Irritado com os bichos, ele corre por entre gnus e zebras, usando suas garras apenas para rasgar os dorsos do animais. Quando finalmente se focou em uma gnu, derrubou-o com suas mãos nuas, torcendo o pescoço do animal e arrastando-o para uma sombra, onde afundou o rosto em suas carnes. Sua fúria só cessou quando se viu coberto de sangue e, então, ficou horrorizado com o que fez. Havia desrespeitado a lei da natureza, caçando por esporte, por diversão.

Mais calmo, Kitok acende uma fogueira, faz uma prece pelo espírito do gnu abatido, corta a ponta de sua cauda como troféu e a usaria para confeccionar uma nova vestimenta. Assou parte da carne para resistir à sua jornada e deixou restos crus para um bando de hienas que já se aproximavam com o cheiro da caça abatida.

— Não serei ridicularizado por todos da tribo. O que Nefret diria de mim? Ela me rebaixaria ao mais fraco filhote. Posso não ser mais um feral, mas não deixarei a savana me consumir. Eu sobreviverei.

Acostumado com as regalias de ser herdeiro, o jovem Kitok não estava acostumado a conseguir seu próprio sustento. Sempre teve todos os seus desejos servidos pela caçadoras de Wanyama e, desconsiderado o ataque furioso em que matou um gnu, não sabia por onde começar a encontrar comida. Tampouco conseguia caçar sem espantar os animais e se cansava rápido nas poucas disputas com os bichos adoentados ou velhos demais para se defenderem. A cada dia que passava, seu estômago reclamava, seus olhos afundavam e seu corpo definhava, perdendo peso e músculos. Fome era o que ele sentia pela maior parte do tempo, encontrava poucas frutas e não conseguia apanhar um peixe. Sempre que se aproximava, os cardumes sumiam. Ao menos, não morreria de sede. Foi quando se inclinou para beber água numa poça parada que viu seu reflexo: o antes fabuloso corpo do herdeiro de Wanyama agora era um caco ambulante, magro, desnutrido e fraco.

— Estou feio - ele diz a si mesmo, com pouca voz — Preciso encontrar comida. Não vou aguentar muito tempo…

Vagando sem rumo e desorientado, Kitok chega a um grande descampado. As altas temperaturas da savana africana provocam alucinações na mente do jovem renegado. Sua visão lhe prega peças e ele vê um verdadeiro banquete à sua frente, mas, sempre que se aproximava, a miragem se distanciava e mais fraco ele ficava. Até que não resistiu. Tombou com a cara na poeira. Desfaleceu pouco antes de sua última visão: um rinoceronte montado por um garoto.

Jakku é um rinoceronte feral. Expulso de casa, encontrou em Argh, um jovem burguês perdido no continente, companhia ideal para sua solidão. Embora o garoto não tivesse aprendido a falar, apenas resmungar, motivo pelo qual foi apelidado de Argh, Jakku entendia os sinais que ele dava. A dupla fugia de um bando de caçadores de chifres. Os homens na região haviam sido vencidos por Jakku em sua forma animal e procuravam pelo rinoceronte que ostentava um enorme chifre, quando se deparou com o moribundo Kitok.

A criança salta de alegria e curiosidade. Imprudentemente, ele corre na direção de Kitok e o cheira e o cutuca até que Jakku o tire de cima do feral. A barriga de Kitok ronca alto e o menino faz uma cara triste, detestava aquela sensação de fome. Ele põe a mão em sua barriga e segura na mão dele, e então subitamente ele dá um salto e grita.

— AAAAAAAAARGH!

E sai correndo catando pedras, troncos de árvores e outros materiais naturais, juntando-os numa pilha. Com alguns nós, trançados e batidas ele arma pequenas arapucas para capturar pequenos roedores que poderiam ser de refeição para os três.  

Empoeirado, cansado e definhando de fome, Kitok se assusta com a curiosidade do menino e, um pouco confuso, começa a perceber que aquilo é real. O rinoceronte se aproxima tomando sua forma humana e acalma o renegado.

— Acalme-se. Não precisa se assustar com Argh, nem comigo. Estávamos fugindo de alguns caçadores que queriam meu chifre e nos deparamos com você – Diz Jakku.

O pequeno Argh entrega uma comida de caça ao faminto Kitok, que devora o alimento com ferocidade, mesmo cru, tamanha era sua fome.

— Obrigado! Devo a vocês minha vida. Já fui melhor do que isto que está vendo, mas ainda sirvo para ser um servo dos mais gratos. Jamais poderei retribuir isto que me foi dado – responde Kitok, ajoelhado aos pés de Argh e Jakku, comendo e chorando.

— Ahhh, está delirando – O rinoceronte ajuda Kitok a se erguer e sentam-se, observando o menino – Sente-se. Argh vai nos arrumar mais comida.

— Por que ele não fala? – Pergunta Kitok.

— Uma longa história, ele nunca aprendeu, eu acho, difícil saber se ele não fala não é? – Responde Jakku, enquanto tira utensílios para o banquete e continua, reparando nas vestimentas de Kitok, que mesmo desgastadas, mostravam que ele vinha de algum lugar de destaque – O que você faz num local tão inóspito como esse? Sozinho! Sem saber ao menos caçar!

— Sou um Kucha, da tribo de Damu. Você não vai acreditar, mas sou um príncipe – Kitok golpeia o chão ao lembrar de seu fracasso – Vim à procura do meu totem, mas falhei!

— Eu sei como é – Jakku faz um afago em Kitok, demonstrando ser muito afetivo – Eu falhei várias vezes, até um dia conseguir.

No decorrer do processo de espalhar as armadilhas, Argh nota o semblante preocupado de Jakku, ele ainda pensava nos caçadores. Durante a refeição, ele se acomoda próximo do grande feral como um filhote com seus pais, enquanto ele conversa com Kitok sobre os perigos que os aguardam. Argh escuta tudo atentamente, emitindo alguns grunhidos de concordância. Quando termina, ele volta às suas arapucas restantes e analisa o lugar ao redor, recomeçando sua coleta de matérias primas. Construiu armadilhas maiores que fariam seus inimigos tropeçar entre a vegetação, colocou-as perto de formigueiros cobertos com relva, ligou cordões torcidos manualmente a casas de vespas e cavou estreitos buracos ocultados que prenderiam a perna de um homem adulto num tropeção perigoso. Argh se lembra das vezes em que torcera o pé em quedas desatentas, ele dá tapinhas na própria cabeça para acomodar as memórias na cabeça. Contente com suas traquinagens e armadilhas, ele volta grunhindo para contar aos adultos, entusiasmado de seus últimos feitos, sacudindo as mãos e fazendo caretas, imitando as possíveis reações de quem caísse em suas tramóias. A conversa entre Kitok e Jakku é interrompida por Argh, que tenta se fazer entender, demonstrando que suas armadilhas deram certo. Preocupado, Jakku avisa Kitok do perigo dos caçadores.

— Irei defendê-los com a vida! Diz o jovem, empunhando sua faca e cheio de confiança, atento e preparado para um provável combate. Somado à sua ira devido a frustração anterior, ele deseja que sua bravura seja recompensada.

Após se alimentarem e conversarem com o renegado Kucha, o trio encontra abrigo, mas à noite, os homens do bando de caçadores que perseguiam Jakku se aproximam, armados, seguindo a trilha de pegadas de Jakku. No escuro, os dois primeiros que caem nas armadilhas alarmam o trio, os adultos se posicionam para agir, enquanto o pequeno Franklin procura onde se esconder entre a vegetação até que a ação termine.

Empunhando sua faca, Kitok avança sobre o terceiro caçador, que já se encontrava assustado por seus companheiros estarem feridos pelas armadilhas. Não imaginava encontrar homens onde terminava o rastro do rinoceronte. O jovem Kucha colide contra os ombros e braços dele fazendo-o derrubar a arma, que voa longe, ao mesmo tempo em que torce a mão que empunhava a pistola. Com a rápida ação, Kitok golpeia o caçador repetidas vezes no rosto até nocauteá-lo, até perceber que mais um inimigo se aproximava. O quarto caçador é atingido com um arremesso de faca preciso, que atinge o seu pescoço, obrigando-o a usar as mãos para estancar o sangue.

O último caçador estava mais distante e, ao ver que todos os seus companheiros caíram rapidamente, dois presos em armadilhas e outros dois derrubados por um homem seminu, começa a disparar em direção a Kitok. O Kucha usa o corpo daquele que estancava o sangue como escudo contra os disparos do caçador, enquanto se afasta protegido. Percebendo que estava em nítida desvantagem, ele se acordava e deixa os companheiros, fugindo entre as sombras da savana.

O saldo do confronto termina com um morto devido ao ferimento na garganta, outro nocauteado e dois presos às armadilhas que, apesar de feridos, ainda estavam conscientes. Argh corre saltitando e gritando "AAAAARRRRRGH!" em direção aos presos. Jakku se apressa para acompanhar o garoto que fica rindo deles enquanto o grande homem os observa num silêncio frio. Toda a afetividade demonstrada para Kitok fora deixada de lado para lidar com essa delicada situação.

— Me deem motivos para não dar fim ao curso da vida de vocês agora – fala Jakku.

Os prisioneiros são nativos do continente e não falam a língua de Wanyama, mas os vocábulos são parecidos, permitindo que se façam entender, com certo esforço.

— A gente estava seguindo o rastro de um grande rinoceronte para o nosso contratador caçá-lo, quando fomos pegos nas armadilhas. O rastro terminava aqui e não entendemos o que aconteceu. Vocês capturaram o animal?

— O animal está seguro – responde Jakku – Não permito esse tipo de atividade por esse território. Um de vocês será liberto para avisar seu contratante o outro deve morrer. Decidam entre si.

— Não tem autoridade alguma sobre este território, sequer fala direito a língua daqui, muito menos pode ir contra a vontade de quem paga pelo safári. São gente poderosa, do exterior, não ficaria em seu caminho se fosse vocês.

— Não somos esse tipo de presa – Kitok se junta a Jakku no interrogatório, com sua faca ainda pingando sangue após ser retirada do pescoço do outro caçador – Me diga quem vai viver e quem vai morrer, Jakku, o resto eu cumpro!

— Ambos – Jakku pega Argh no colo e afaga seus cabelos, virando as costas para os caçadores. Apesar da postura rígida, lhe doía o peito a decisão.

Os olhos de Kitok não param de fitar os caçadores. Frio, o Kucha ajoelha-se à frente do primeiro caçador, aquele que respondia as perguntas e, após Jakku dar as costas, retirando o pequeno Argh dali, Kitok crava sua faca de ossos na jugular do caçador.  O outro se desespera, mas recebe o mesmo fim do companheiro.

Com três mortes nas mãos do grupo, o trio decide deixar os corpos ali para servirem de alimento aos carnívoros que os próprios caçadores teriam feito de presa em outros tempos.

— Vamos embora daqui – diz Jakku – Para despistá-los, subam nas minhas costas e eles ficarão confusos com a perda do rastro de passos humanos.

Jakku transforma-se em rinoceronte para a alegria de Argh, que consegue se comunicar melhor com a forma animal do companheiro, e para a inveja de Kitok, que falhou em sua missão de encontrar o totem do predador. Quando o trio toma distância do cenário do ataque, o caçador que foi nocauteado levanta-se. Ele estava consciente há mais tempo, mas preferiu se manter imóvel e esquecido quando percebeu que corria risco de morte. Assombrou-se quando viu Jakku se transformando e esperou que o trio se distanciar para recolher as armas dos companheiros e voltar a trilha para encontrar os demais caçadores.


[OBJETIVOS]
Salvar Kitok - ND10 (pode usar a Perícia Sobrevivência, dando um bônus de +4 no teste)
Argh usa Armadilhas (Sobrevivência)
♣1 + 7♥ + 4B = 12. Sucesso! Argh ganha 1 XP.

Se livrar dos caçadores - ND06 (5 homens, cada um com dois testes: defender e atacar)
Argh usa Armadilhas (Sobrevivência) para atacar.
♣1 + A♠ + 4B = 16. Sucesso! Argh derrota 2 homens e ganha 2 XP.
Argh usa Furtividade (Sobrevivência) para se defender.
♠3 + 5E + 4B = 12. Sucesso! Argh consegue se esconder dos outros dois homens.
Kitok usa o Ataque Múltiplo em dois homens por 1 PM.
♠ 4 + ♠ 2 = 6. Sucesso! Kitok derrota dois homens e ganha 2 XP.
Kitok se defende.
♦ 3 + ♦ 5 = 8. Sucesso! Kitok consegue se defender do último caçador


Última edição por Anfitrião em Qui Jan 07, 2021 1:39 pm, editado 5 vez(es)
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MensagemAssunto: Re: Episódio 04 - As Sandálias da Velocidade   Episódio 04 - As Sandálias da Velocidade EmptySáb Jul 04, 2020 1:16 pm

CENA 3


Reino de Buganda, África, 1912.

O sentimento de orgulho, aos pouco, parece retornar ao jovem Kucha após a vitória contra os caçadores. Sua frieza ao finalizar os caçadores já era consequência disso. Enquanto era carregado pelo companheiro rinoceronte, pensava olhando para suas mãos "- Foi só uma falha! Só uma! Nunca mais me deixarei abater assim!"

Jakku, carregando Kitok e Argh no lombo de sua forma rinoceronte, percorreu dias continente adentro, afastando-se cada vez mais das margens do Lago Nyanza. Distanciando-se dos caçadores, o trio rumava às selvas tropicais, onde o rastro do rinoceronte findaria e eles poderiam encontrar abrigo, afinal, eram terras conhecidas por Argh, onde ele foi encontrado pelo bando de gorilas e crescido. Não era um ambiente muito propício para um animal grande como um rinoceronte, pois além de  ter vegetação que um animal como ele estava acostumado, o terreno começa a ganhar altitude de montanha. À medida em que se afastavam da margem do lago e se aproximavam das montanhas, a felicidade de Argh contrastava com a atenção de Kitok. Sem entender o que o pequeno fala, ele fica atento aos perigos que possam surgir. 

— CASA!

Para os ouvidos de Kitok, Argh apenas grunhia novamente, mas Jakku, em sua forma animalesca, entendia-o perfeitamente. O garoto saltitava por voltar ao lar. Havia deixado o lugar para trás quando um de seus irmãos, Pekee, desafiou o líder pelo posto de alfa do grupo e, após sua vitória, expulsou todos os machos, inclusive Argh. Agora, aliado a Jakku e a Kitok, companheiros que já provaram ser grandes combatentes, poderia, quem sabe, desafiar Pekee e rever sua mãe adotiva, Maziwa.

Pekee sentiu o cheiro de Argh antes mesmo de ele invadir seu território e estava curioso como o pequeno humano havia criado seu próprio “grupo” e se aproximava. Irado com a ofensa, já que proibiu a presença de outros machos, bateu forte os punhos no peito repetidas vezes e urrou de modo a todos os animais do território procurarem abrigo, pois o grande líder estava furioso. Não tardou para que um grito poderoso fosse ouvido. Pequenos roedores escalavam as árvores em busca de proteção, ao mesmo tempo em que pássaros deixavam os galhos, assustados.

— Ah, não! Meu irmão vem vindo. É melhor nos escondermos – disse Argh, mas somente Jakku entendeu.

Quando Jakku volta à forma humana, ele segura Kitok e Argh pelas mãos e corre em meio à selva.

— O que está acontecendo? – Pergunta Kitok, atônito.

— Argh foi criado por um grupo de grandes símios e seu irmão o expulsou e a todos os outros machos. Acabamos de invadir o território dele e ele não parece feliz – responde Jakku.

— Então, aquele grito…

— Sim, era ele. E estamos em perigo, pois ele tem vantagem aqui.

— Deve ser uma fera incrível – Kitok fala baixo seguindo os companheiros e já notando movimentos agitados na mata se aproximando.

Enquanto procuravam um lugar seguro para se esconder, o trio passa por uma estreita estrada abandonada. Aquela construção levava a ruínas que eram território proibido para qualquer um, o que se falava é que lá habitava um animal espectral, um felino fantasmagórico que assombrava o lugar. Anos antes, exploradores humanos tentaram invadir o que seria um antigo templo, mas tiveram um tenebroso fim numa noite escura que acabou em gritos terríveis. Maziwa conta que foi deste grito que Argh nasceu, mas também proibiu o menino de aventurar naquele local.

Argh protesta, forçando Jakku a parar. Ele está mais assustado com o lugar que com a perseguição de Pekee e não avança de jeito nenhum no território proibido. 

— Porquê parou, Argh? Vamos continuar, Jakku!

Kitok tenta puxar o menino, mas ele protesta. O trio não tem muito tempo para pensar e planejar, os urros do gorila são cada vez mais próximos. Quando finalmente resolvem dar a volta, Pekee salta entre os três. Sua força é tamanha que ele socando o chão com as duas mãos unidas num só golpe que faz um rombo sob os pés de Argh, Jakk e Kitok. O buraco se abre rapidamente, criando um túnel subterrâneo. O pequeno e ágil Argh consegue saltar e se segurar em cipós que pendiam das árvores. Jakku é grande demais e se segura em algumas raízes que alcançou. Kitok não tem a mesma sorte dos três e é engolido pelo buraco, caindo numa espécie de duto de pedra e chegando um aposento retangular no subsolo.

— Nãããoooo!

A queda atinge diretamente o ego vaidoso do Kucha. Sua confiança não poderia ser abalada novamente. Não agora que ele estava tão prestes a reconquistá-la.

— Preciso voltar. Não posso falhar novamente – Lamentava-se o jovem em tentativas vãs de subir por onde caiu.

Os olhos do Kucha se adaptam à escuridão rapidamente e ele comprova que seria impossível subir de volta. Tanto a passagem era estreita e escorregadia, como os golpes de Pekee produziam deslizamentos que bloqueavam a saída do duto. A única possibilidade era seguir em frente, numa passagem que adentra mais na montanha.

— Devo seguir em frente!

A única opção era seguir caminho montanha a dentro. Além da preocupação com seus amigos, outro desafio estava, literalmente, aos pés do Kuch. Serpentes! Uma enorme massa de répteis cobria o chão pelo caminho a seguir. Felinos não costumam ter medo de répteis, porém, a quantidade de serpentes assusta. Os golpes de Pekee não param e dessa vez ajudam o jovem príncipe. Pisando em algumas pedras e galhos grandes que caiam, Kitok vai desviando das cobras. Usando um galho comprido, vai afastando as serpentes que tentam se aproximar ou possam tentar um bote venenoso.

— Nojento! Não é atoa que são uma raça desprezível!

Aos poucos as serpentes vão diminuindo e Kitok chega a um cômodo à frente que o leva até uma sala principal. Kitok consegue vislumbrar uma luz, uma possível saída no final do corredor. Na sala principal, uma solitária árvore branca cuja copa é enevoada com uma neblina também branca serve como base para uma figura felina fantasmagórica, branco-luminosa, descansar. Assim que Kitok entra no aposento, a criatura desperta e começa a rodear o feral. Ela fala diretamente com ele mentalmente.

— Esta é a primeira vez que um invasor chega até mim pela entrada dos fundos. Estou realmente impressionado, mas mais ainda pelo fato de você não ser apenas humano. Você é um feral, correto? Herdeiro de Wanyama, mas sem seu totem. Eu sou o espírito de Ngaya, primeira dos ferais e fundadora de Wanyama, meu sangue corre em você. E você pode ter a honra de ser mais que um simples rei, pode se tornar uma lenda! Corra e chegue antes que eu volte até esta árvore e a derrube. E seja o mais poderoso dos ferais. Leve grande honra de volta a Wanyama!

Kitok ouve calado. As palavras do feral tocam no mais profundo sentimento vaidoso do príncipe.

"Esta é a chance perfeita! Sairei daqui como um feral e retornarei como um herói nem que eu precise destruir minhas pernas de tanto correr!" Pensava ele sabendo que corrida era uma de suas atividades em que mais se destacava, além de cruzar com várias fêmeas de sua tribo.

Em frente, há um caminho pedregoso, com riachos e ravinas, que leva para fora do templo. Lá fora, o caminho é circular, com um monte alto, difícil de escalar. Subir o monte é um atalho, que leva ao outro lado do caminho. O felino se prepara e sobe na árvore. Ele corta uma das folhas brancas e Kitok entende que, quando a folha tocasse no chão, o felino começaria a perseguição.

"Pela minha glória" Kitok enche o pulmão e inicia sua corrida de redenção. Com passadas largas ele vai ganhando velocidade mesmo sendo um caminho pedregoso e irregular que o leva até uma pista circular, que envolve um monte. Tentar atravessar certamente encurtaria o caminho e ele toma essa decisão.

— Preciso vencer! Irei vencer!

O jovem príncipe Kucha inicia sua escalada agarrando-se em raízes altas para se apoiar e seguir monte acima. Obstáculos como pedras polidas e escorregadias são superados por ele até que vislumbra a descida, tão perigosa e desafiadora quanto. Um passo em falso rasgaria seu corpo além de qualquer tratamento. Lançando-se abaixo, deslizando e saltando, Kitok retorna à pista circular e corre ainda mais convencido da vitória. Ele mal tem tempo de olhar para trás e observar seu oponente, o feral fantasmagórico. Vaidoso como sempre, olha apenas o objetivo a sua frente, a árvore branca, que se aproximava a cada segundo. Com um salto espetacular, Kitok agarra-se ao seu galho mais baixo e aproveita o impulso para se lançar aos mais altos. O corpo esbelto do Kucha flutua por entre as folhas brancas da árvore e, da copa, ele vê o felino aproximar-se.

— A corrida, eu já ganhei, mas sou um caçador e este felino será minha presa. Além de presa, será o meu totem! Retornarei como o mais poderoso feral em séculos de existência de Wanyama!

Com a mente de caçador, Kitok joga-se da copa da árvore, aterrisando nas costas do animal fantasmagórico, montando-o. Usando seus poderosos braços ao redor do pescoço da fera, ele a subjuga, explodindo num brilho cegante.

Quando finalmente abre os olhos novamente, Kitok já não é mais o mesmo. Seu corpo deixou de ser simplesmente humano e agora é um feral completo, com o totem mais especial que poderia imaginar. Sua pele tem os desenhos intrincados da pelagem do animal, em tons claros e alaranjados, quase dourados. Sua velocidade é aumentada e o tempo parece até se passar mais devagar à sua volta. Rapidamente, ele sai das ruínas da montanha e ganha a savana, passando inclusive por cima de riachos como se estivesse pisando em terra firme, tamanha a velocidade. Seus passos inclusive parecem desafiar a gravidade, pois sua corrida é tão fenomenal que Kitok consegue andar em um paredão de rocha vertical. Entusiasmado, porém com medo, o kucha desequilibra-se e cai do alto do abismo, mas sua velocidade salva-o novamente, já que lhe dá tempo de pensar em usar quais saliências do paredão, como rochas projetadas e raízes, amortecem melhor sua queda. Pousando em segurança no chão. Kitok percebe que, embora esteja em uma forma feral, não é exatamente de sua transformação que vem toda aquela velocidade. Um estranho par de sandálias com asas estão calçando seus pés, adaptado inclusive às suas patas de fera.

— Isto é magnífico – disse Kitok enquanto corre, explorando suas novas habilidades conquistadas – Sempre sonhei em ser um leão, um rei, mas isso é muito mais do que eu desejava!

Kitok testa todo o potencial do artefato que possui. Acelera por cima de pequenos córregos, observando a o fluxo da correnteza quase parar sob seus pés felinos. Ao saltar e perceber sua grande impulsão. De pedras em pedras e de árvores em árvores, rapidamente ele se afasta do riacho, voltando correndo e repetindo a brincadeira, como uma criança.

— Que fantástico! Sinto-me um espírito totalmente livre! Sinto que sou dono do mundo – Kitok não sente a gravidade fazendo efeito sobre seu corpo ao arriscar uma corrida em uma superfície inclinada aos pés de um rochedo. O que parecia ser impossível, pelo ângulo, ele consegue realizar em alta velocidade — Serei o mais notável e poderoso kucha de Wanyama!!

A vaidade tão latente no jovem reaparece com força, ao fim de um respirar profundo no topo do rochedo. Sua forma feral, aliada ao poder do par de sandálias, lhe dá vantagem e isso poderia ajudar Jakku e Argh contra os golpes de Pekee. Kitok tenta se localizar, mas aquele terreno desconhecido não ajudava. Porém, com sua velocidade recém adquirida, levaria pouco tempo para encontrá-los.

Argh se desespera e sobe na árvore com os olhos cheios de lágrimas. Apesar de seus instintos inconsequentes, ainda é uma criança e o medo faz seu coração palpitar, ver seu protegido nessa situação faz o sangue de Jakku ebulir.

— Ninguém mexe com meu filhote! - ele urra enquanto sua pele fica cada vez mais grossa e cinzenta. Suas narinas dilatam e a cartilagem rasga a pele, tornando-se um chifre.

Seu instinto protetor leva-o imediatamente a se transformar num grande rinoceronte e se colocar entre Argh e Pekee. Independente das tradições, qualquer um que mexesse com seu protegido deveria ser derrubado de forma a não repetir esse erro. O primata puxa um grito primal e ataca Jakku com violência e todo o peso de seu corpo, mas o rinoceronte apenas cerra os dentes e resiste imóvel. Mostrar-se como macho mais resistente é a forma que sua tribo mostra seu poder. Respira fundo e prende o ar durante o impacto, tudo nele se enrijece.

O ar que ele libera sai de suas largas narinas de forma quente e úmida, um cheiro de raiva é emitido e ele fita os olhos de Pekee, que vacila por um segundo quando percebe que Jakku decidiu revidar. Ele inclina sua cabeça e posiciona seu chifre.

Num movimento violento, o rinoceronte cinzento ergue sua cabeça desferindo um golpe de baixo pra cima procurando lançar o símio para cima ou furá-lo com seu chifre. Não se importava mais com o estado que Pekee ficaria, apenas Argh importava. O ataque de Jakku é tão devastador e humilhante para o primata que ele não tem alternativa a não ser recuar. Seus gritos de frustração são ouvidos por meia hora, enquanto ele se distancia.

Com a vitória do rinoceronte, o garoto salta de seu refúgio direto em cima de Jakku que voltaria a sua forma humana e o tomaria em seus braços, abraçando-o com firmeza acariciando sua cabeça.

— Shhh, passou passou, eu sempre vou estar aqui por você meu tesouro – ele afaga o menino, enquanto seu corpo ia perdendo a rigidez do combate — Eu te amo meu filho, sempre irei te proteger.

Barulhos de mata partida voltam a indicar a aproximação de um inimigo e Jakku coloca Argh em suas costas. Um grande feral guepardo albino-dourado para diante dos dois. A metamorfose é revertida e Kitok está diante dos dois, calçando apenas um par de sandálias douradas. Ainda aprendendo a lidar com sua forma feral e animal, o novo portador das Sandálias do Pastor retorna para os amigos, exibindo seu calçado mágico.

— Devemos retornar ao meu reino! Tenho obrigações a cumprir em Wanyama – Com um olhar afetuoso aos companheiros, completa — Vocês fazem parte desta conquista amigos! Devo a vocês minha vida! Minha honra! Em Wanyama serão tratados com o devido respeito e admiração!


[OBJETIVOS]

  • Passar pelas serpentes: ND 6.

Kitok: ♦ 3 + ♠ 7 = 10. Sucesso! Ganha 1 XP.


  • Correr do guepardo: ND 14.

Kitok: ♠ 4 + ♥ 10 = 14. Sucesso! Ganha 2 XP.


  • Enfrentar Pekee: ND 10 para se defender.

Jakku: ♦ 5 + 6 ♥ = 11. Sucesso! Jakku defende.


  • Enfrentar Pekee: ND 8 para atacar.

Jakku: ♠ 2 + 9 ♠ + 2B = 13. Sucesso! Jakku recebe 1 XP.


Última edição por Anfitrião em Qui Jan 07, 2021 1:40 pm, editado 3 vez(es)
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MensagemAssunto: Re: Episódio 04 - As Sandálias da Velocidade   Episódio 04 - As Sandálias da Velocidade EmptyQui Out 01, 2020 1:55 pm

EPISÓDIO
05
CENA FINAL

Lago Nyanza, África, 1912.

A filha mais velha dos Senhores de Wanyama, Nefret, uma kucha aventureira e que desde cedo sabia que os limites do reino eram pequenos demais para sua sede por adrenalina. Começou cedo, a partir dos seus doze anos já pediu para conquistar seu totem. Seu pai tinha ciência da ambição de Nefret, mas não a repreendia, ele sabia que tinha algo feroz em sua filha, e sua vontade de ser poderosa poderia fazer dela uma futura governante para levar glórias ao Reino de Wanyama. Suas aventuras renderam uma gama de contatos, usava o nome de Nakia nas savanas, e por este ficou conhecida entre os malandros, ladrões e arruaceiros das demais tribos, com suas habilidades de furtividade e pontaria. Quando regressava aos kucha, era novamente Nefret, uma dama com um grande carisma e aparência notavelmente encantadora. E assim ela seguiu sua adolescência, vivendo sempre sobre a corda bamba, mantendo ambas as vidas numa aventura que saciava sua sede por adrenalina, parecia tudo perfeito, até o dia em que Kitok, seu irmão mais novo, passaria pelo ritual do totem e garantiria seu direito como próximo governante. Apesar de ser primogênita, ser uma mulher frustrava totalmente os planos de Nefret, de modo que ela convenceu o kafi Kuo a se livrar de seu irmão. Se não tivesse outro herdeiro, seu pai seria obrigado a aceitar a filha como próxima regente.

— Não é justo que meu irmão seja o próximo chefe de Wanyama. Este título deveria ser meu! Sou mais jovem, mais bonita, mais inteligente… Enfim, melhor.

— Você é perfeita, você é linda, você se parece com uma deusa. Tudo sobre você é perfeito – respondeu Kuo.

Nefret ri da bajulação do crocodilo, que massageava seus pés, enquanto ela bebericava um cálice de vinho de palma.

— Oh, você está sorrindo! Nefret! Seu sorriso é lindo!

— Mas ser linda não basta! – Nefret se cansa de ser adulada — Precisamos de um estratagema para que meu irmão não conquiste o totem!

— Eu serei o Mashua dele – Kuo dá a ideia.

Nefret e seu amigo se entreolham. O plano era perfeito. Mashua são os responsáveis por levar os ferais até o continente para conquistarem seu totem, o mashua fazia o papel de barqueiro, mas usando seu próprio corpo como canoa. Era uma honra ser mashua e Kuo arriscava isso por Nefret.

— Espere! Falta um detalhe: Kitok será acompanhado por Zazel, para saber se cumpriu os requisitos – lembra Nefret.

— Ela não poderia ser subornada?

— Muito difícil, mas acho que posso contar com a ajuda de outro amigo...

Entre os contatos de Nefret estava Tai, um bawa que sentia medo da kucha. Tai tem uma forma feral de abutre, é bastante ridicularizado devido à sua aparência e abominado por manter hábitos detestáveis como comer carniça. É confrontado por Nefret, pois a kucha sabe que ele praticou canibalismo quando esperou morrer um parceiro gavião para se alimentar da carne dele, um crime imperdoável para o povo de Wanyama. Desde então, a jovem vem chantageando-o para manter o segredo do abutre. Uma de suas chantagens consistia de fazer do bawa seu espião pessoal e foi ele quem lhe contou que Zazel seria a acompanhante de Kitok, por mais que Nefret tivesse usado sua influência para o próprio Tai fosse a testemunha da passagem de seu irmão.

No fatídico dia em que Kitok falhou em conquistar seu totem, a maior ameaça foi a derrubada provocada por Kuo. Quase devorando o kucha e a bawa, Kuo espreitou pela volta de Kitok, sendo espionado ao longe por Tai. Com a vinda solitária de Zazel, a dupla de capangas entreolhou-se comemorando. Zazel anunciou a derrota de Kitok que, com o orgulho ferido, debandou para as terras continentais. Sem um representante kucha para levar adiante o legado de Wanyama, Nefret ofereceu-se para adiantar seu ritual, quando passaria pela mesma provação que Kitok. Mfalme, o leão regente da ilha dos ferais, pai de Kitok e Nefret, acatou o pedido da filha. Decepcionado com o primogênito, restava apenas a filha para manter sua linhagem no trono.

Semanas se passaram desde então, para os preparativos do ritual do totem da princesa Nefret. Kuo seria seu barqueiro e Tai foi escolhido como sua testemunha. O trio não conseguia conter a satisfação, que estava estampada em seus rostos. O patriarca kucha ergue-se de seu trono e se dirige a Nefret.

—Minha filha – fala Mfalme – Este é o dia mais importante de sua vida. Não saiu conforme o planejado, pois o seu destino seria ocupar um lugar na Guarda Real, mas, com o desaparecimento de seu irmão, um novo destino foi traçado. Agora, você tem a responsabilidade de continuar meu legado. Por favor, volte para nos trazer a alegria que seu irmão não nos proporcionou. Agora vá!

Nefret, vaidosa, agradeceu as palavras do pai. Subiu no tronco de Kuo e esperou o sinal de Tai. Em poucos instantes, o trio deixava Wanyama para desembarcar no continente africano. A intenção da princesa era caçar uma leoa, maior símbolo de força, mas toda alcateia se afastava assim que ela se aproximava. Passou o dia inteiro espreitando e farejando, até tentou com um leopardo, mas também sem sucesso. Quando o sol estava para se por e o dia terminaria, com o fracasso do ritual do totem, Nefret desesperou-se. Até que ouviu risadas próximas. Um bando de hienas devorava os restos de um leão. Predador virou presa. Foi aí que Nefret entendeu. Ela era uma hiena. Tinha seu próprio bando organizado com Kuo e Tai. Um bando liderado por uma fêmea mais forte, com os machos servindo-a conforme suas vontades. A cena lhe pareceu divinatória, pois era exatamente isso que Nefret planejava: abater o leão, seu irmão Kitok.

A princesa começou a gargalhar. As hienas pararam de imediato com o banquete e prestaram atenção em Nefret. Curiosas, deixaram a carcaça felina para trás e se aproximaram da kucha. Rodeada pelo bando, Nefret sentia que elas a reverenciavam, como se fosse uma rainha. Melhor, uma deusa. As hienas correram ao redor dela, gargalhando e sacudindo suas cabeças. Os animais brilharam com uma luz ectoplásmica e, uma a uma, possuíram o corpo de Nefret. Havia conquistado seu totem e, num clarão de luz, teve seu corpo transformado em uma mulher-hiena.

Orgulhosa, Nefret chegou até as margens do Lago Nyanza, assustando Kuo e Tai. Embora fosse uma hiena, a nova feral tinha uma beleza exótica e singular, os pelos malhados cobrindo seu corpo e uma vasta cabeleira negra emoldurava seu rosto. Ela riu, forçando seus lacaios a rirem juntos com ela.

Foi neste momento que o trio formado por Kitok, Argh e Jakku chegou também para a travessia a Wanyama. Nefret reconheceu o irmão de imediato e sua expressão de contentamento transformou-se em ódio.

— Vocês disseram que ele estava morto – rosnou Nefret.

— Foi isso que Zazel nos disse – respondeu Tai — Não temos...

— Não importa – interrompeu Nefret — Eles não podem voltar às Terras de Wanyama.

Às margens do lago, o trio de Kitok encara o grupo de Nefret. Mesmo após muito tempo sem ver sua irmã mais nova e mesmo ela estando em forma feral, Kitok a reconhece de imediato. A primeira sensação do Kucha é de saudades, mas também veio o espanto por vê-la ali, tão longe de casa e numa forma feral e assim como receio e raiva ao ver a reação hostil da irmã, além de, principalmente, reconhecer seu Mashua traidor.

— Jakku! Assuma a forma feral, amigo! Esta é minha irmã e alguns lacaios das minhas terras. Pelo visto não estão aqui pelo meu resgate — Kitok adverte o companheiro e assumindo uma postura defensiva à frente deles — Precisamos cuidar de Argh. Além de nos protegermos melhor podemos nos comunicar com ele.

Imprudente, Argh avança contra seu adversário assim que eles se aproximam rosnando, sem tempo de Jakku e Kitok assumirem suas formas ferais. O garoto salta sobre o abutre, arrancando as penas do desprevenido. Jakku arregala os olhos preocupado com seu pequeno e se distrai observando sua movimentação, até recobrar que também estava em perigo. O crocodilo avança ferozmente, abocanhando o braço do rinoceronte humanóide, deixando a marca de seus dentes no couro grosso de Jakku.

Argh pula para trás, ouvindo o grito de dor de seu companheiro, enquanto o abutre apenas se defendia de um ataque não veio. Jakku assume uma posição defensiva para si mesmo, mas o crocodilo ri do desespero do rinoceronte.

— Lembro de você – ele diz, entre risos — Deveria se tornar o Mlinzi, guerreiro protetor dos Kwato, mas resolveu sair em aventuras… Pra quê voltou agora? Não é bem-vindo aqui.

Antes que pudesse responder, Jakku vê o abutre alçando voo e dando um rasante sobre Argh.

— Cuidado, meu menino!

Avisado por Jakku, Argh se esquiva no momento certo do ataque das garras do abutre que vinha do céu. O crocodilo, que esperava um ataque do rinoceronte, fica sem reação ao ver um elo tão forte entre seus adversários.

Enquanto isso, os irmãos se reencontravam depois de quase um ano sem se verem.

— Pequena Nefret! Meu coração se enche de alegrias ao vê-la, querida irmã!

Kitok tenta ser amigável com a irmã, mesmo já conhecendo seu temperamento. Em sua forma de hiena, Nefret apenas ri.

— He he he he he… Eu não me alegro, “irmão”. Não deveria voltar aqui. Trouxe desonra à nossa família. Vá embora e não volte nunca mais.

Kitok mantém-se em posição defensiva, ainda em forma humana, mas Nefret apenas observa o irmão, à procura de algum ponto fraco.

— Está muito evasivo, irmão. Não quero ser agressiva com você, apenas que se retire, como já falei. Você é uma desgraça, sempre foi um obstáculo para mim. Divertia-se com as mulheres e levava uma vida de príncipe, enquanto eu era obrigada a lutar por atenção, quando eu deveria ser uma princesa e ter tudo à mão. Não você! Tive de cuidar desde cedo de um preguiçoso, um vaidoso, que nunca lutou para ter as coisas. Não merece a honra de seguir o legado de Wanyama, um verme desprezível e inútil.

O kucha não aguenta os desaforos da irmã contra sua vaidade e, num ato de fúria, desfere um golpe de faca. Nefret ainda tenta se defender, mas é atingida no rosto, levando um corte perpendicular ao seu olho esquerdo. Kitok para e larga a faca, surpreso com sua própria atitude.

— Nefret! Me desculpe, não precisamos lutar! Podemos retornar triunfantes para nosso pai! Nosso povo!

A hiena olha com fúria para o irmão, sua expressão é de mais profundo ódio. As veias de seu corpo saltam, bombeando sangue pelo corpo. Era como se estivesse acometida de loucura enraivecida. Enquanto avança, Kitok muda de forma, ganhando novos atributos e se transformando de um humano para um feral especial, o guepardo fantasmagórico que era apenas uma lenda em Wanyama. Nada disso traz Nefret de volta à sua consciência. Ela é puro ódio.

Usando a velocidade das sandálias para se afastar, Kitok evita os ataques descoordenados de Nefret. As garras da hiena rasgam o ar, mas sequer chegam perto de seu alvo, o que apenas a deixa mais furiosa

— Pare, Nefret! Me desculpe, eu me precipitei. Vamos conversar!

Nefret sequer ouve as palavras de seu irmão e, avançando com fúria, finalmente atinge o couro do guepardo albino de Kitok. Ele recua de dor, jamais imaginaria que as garras de sua irmã pudessem ser tão fortes.

— Nefret, já chega! Mande seus amigos recuarem! Isso é loucura! De onde surgiu todo esse ódio?

— De sempre! Desde seu nascimento! Eu deveria ser a legítima herdeira de Wanyama, mas meu pai teimava em ter um filho homem para estragar meus planos. Sou a primogênita, sou forte, sou ágil, sou inteligente. E você? Você é apenas homem!

Kitok tenta finalizar o combate com uma última investida, atacando de forma feroz e em velocidade, saltando e tentando subjugar a irmã agarrando-a pelas costas.

— Me largue, seu verme desprezível – ela rebate, desvencilhando-se dos braços do irmão.

Perto dali, Argh continua antenado, ele se arqueia como pequenos predadores que tentam parecer maiores, mas a estratégia não dá certo. Do alto, o abutre tem perfeita noção do perigo que enfrenta e despreza a prepotência do menino, sendo alvo de um rasante que terminar por cravar as garras no dorso do infante. Gritando ao sentir as grandes unhas fincando-se em sua pele, Argh pula para o alto, arrancando mais penas dos membros inferiores do abutre e mordendo a pele exposta.

— CRAACK! Que tipo de demônio é esta criatura?

O abutre larga o garoto e se mantém distante, usando suas asas para se esconder, apenas para perceber que Argh também cruzava os braços à frente de sua cabeça.

Seguindo com sua estratégia habitual, Jakku resiste o quanto pode para cansar seu oponente. O crocodilo avança contra o corpanzil do rinoceronte, tendo seus golpes defendidos com tanta maestria que lhe esgota as forças, forçando-o a parar para respirar. É quando Jakku vê a brecha para aplicar seu primeiro golpe poderoso investindo com o chifre. O ataque acerta o ventre do crocodilo, mas o feral consegue aparar o golpe segurando os chifres de Jakku com as duas mãos. Kuo usa sua grande força para empurrar Jakku a alguns metros, mantendo-o afastado. Os oponentes se encaram, estavam perdendo o fôlego num balé de demonstração de força e, não fosse o ataque surpresa do crocodilo no início do combate, não haveria feridos na lutas, provando o quão bons lutadores aqueles dois são.

Jakku arrasta o pé para trás, levantando poeira sob suas grossas pernas, investindo com toda ira e desespero. De igual forma, Kuo mantém-se bípede, forçando os músculos sob a forte couraça de escamas para parecer maior do que realmente é. Os dois correm um de encontro ao outro. Os chifres de Jakku em riste e as mandíbulas de Kuo pingando saliva. Os gigantes se chocam em um encontro estrondoso. O chifre do rinoceronte perfurando o céu da boca do crocodilo, ao mesmo tempo em que a poderosa mandíbula de Kuo fecha-se sobre o focinho de Jakku. O impacto e o dano provocado entre os dois é tão forte que ambos caem desfalecidos e feridos.

Argh também já estava no fim de suas forças. Ele usa seu último fôlego para emitir um grito gutural, apostando na força de sua garganta para intimidar seu oponente com o Temor da Selva. Tai já imaginava que a criança fosse alguma espécie de demônio e, ouvindo o grito terrível de Argh, não tem mais dúvidas. Por mais que temesse a ira de Nefret pelo abandono da peleja, estava convencido que aquela criança era mais do que realmente demonstrava ser. Com suas últimas forças, o bawa bate suas asas para longe. Argh mantém a postura desafiadora e espera o abutre ganhar distância, para então cair exausto esperando o destino.

Nefret fica com mais raiva ainda ao perceber que seu tanque desfaleceu em combate e o outro aliado a abandonou, mas sua atenção é voltada para Kitok, que tentava manter um diálogo.

— Não desejo te ferir, irmã! Insisto, acabe com isso!

A hiena salta, mantendo uma distância segura de Kitok, procurando alguma forma de escapar, pois, embora enfrentasse apenas seu irmão, estava sozinha e os aliados de Kitok poderiam se recuperar em instantes.

— Não me faça sacrificá-la! Preciso voltar para casa e gostaria de você ao meu lado!

— Me sacrificar? Acha realmente que é um ser especial que decide sobre a vida dos outros? Eu tenho o maior desprezo por você. Festejei a sua morte com uma orgia e dei graças à Terra ter comido o seu cadáver.

Ela avança sobre o irmão, as garras de ambas as mãos cruzando o ar e deixando marcas no tórax de Kitok, forçando-o a recuar. Imaginando que seria o ataque derradeiro do combate, o guepardo une o poder das sandálias para correr ao redor de Nefret, usando suas poderosas garras afiadas para desferir diversos golpes no corpo e no rosto da irmã hiena. Mesmo com tristeza no coração, a cada arranhão, uma lágrima escorre dos olhos do guepardo. Tantos golpes são desferidos ao mesmo tempo, que Nefret estava atordoada com a chuva de ataques. Até que desfaleceu.

Kitok cessou os ataques e tentou, em vão, acudir a irmã, segurando-a em seus braços. Ainda respirava, mas precisaria de cuidados imediatos. Foi quando uma sombra cobriu os irmãos. Ninguém menos que Zazel, a companheira de totem de Kitok observava tudo. Ela pousou próximo e se dirigiu ao kucha.

— Exijo que se apresentem agora na presença de Mfalme. Todos!... Ou os denuncio por traição. Uma briga entre herdeiros? Querem arruinar Wanyama?

A censura rígida deixa a tensão da situação ainda mais atenuada. Aos poucos, Kuo recobra a consciência, sentindo fortes dores na bocarra. Jakku também se levanta, mas ignora o crocodilo e corre para acudir Argh. O rinoceronte respira aliviado, ao ver que seu protegido apenas está fatigado. Tai está de volta, ao ver que Zazel se aproximava do cenário do combate, sabia que deveria se apresentar.

— Kuo, exijo seus serviços de Mashua e o vigiarei de perto. Levará Kitok e o renegado Jakku. Eu mesma carregarei a criança, enquanto Tai leva Nefret.

Kitok aceita calado e impede que Jakku se manifestasse ao deixar Argh nas garras de Zazel.

— Vocês têm minha permissão para matar Kuo se ele se rebelar – diz a bawa.

— Seguirei suas ordens, mensageira – responde o crocodilo.

Sobre as costas de Kuo, Kitok e Jakku atravessam Nyanza até o porto de Wanyama. Ver o relevo do reino enche o guepardo de esperança, enquanto traz sentimentos conflitantes a Jakku. O povo os recebe com espanto, cochichando sobre o estado de todos, a forma de Nefret, mas, principalmente, sobre a mudança de Kitok. Os mais velhos apontavam dedos trêmulos o chamando de lendário herdeiro. O rei se apressa com uma pequena comitiva. Perdido, ele arregala os olhos e Zazel toma a dianteira relatando o confronto que viu. 

— Pai! Eu juro que tentei evitar, mas ela estava louca de ódio... Não me orgulho, mas todos sabemos que toda ação tem uma reação. Se interrogar seus comparsas verá que um golpe foi tramando – a voz de Kitok era precisa. Antes um garoto, passara toda a trajetória até ali refletindo e, independente do que sentia, precisava honrar sua posição e ser íntegro. Eu sou o herdeiro que volta para assumir seu trono.

Mfalme tem um olhar duro, e avalia tudo em silêncio. Por fim levanta uma mão e todo o povo se cala de seus burburinhos. 

— O que está feito, foi feito. Seguindo nossas tradições, reconheço meu filho, Kitok como herdeiro e como último decreto mando Simba Nefret, Kuo e Tai como exilados. Peço desculpas a todos, posso ter sido um rei para meu povo, mas falhei como pai de meus filhos e passarei o resto de meus dias pagando pelo que fiz. Levarei eu mesmo minha filha para a terra onde será exilada, e se voltar, deixo nas mãos do atual rei, me aceitar de volta.

A ruptura inicia uma nova era em Wanyama, artefatos e intrigas poderiam ser apenas o começo de problemas maiores. O totem do guepardo espiritual é tido por todo o povo como o início de uma nova era, talvez a mais importante desde a fundação de Wanyama. O conselho de anciões organiza um festival em homenagem ao novo regente, mas Kitok não está feliz. Mesmo entre os braços de Zazel, a quem pegou como consorte, seu coração está com o pai, que deixa o reino para levar sua primogênita e seus lacaios para o exílio.



[RESULTADOS]




























ARGHABUTRERESULTADO
♠:relaxed:Abutre 1 dano
:relaxed:♦Argh finta
♦♠Argh defende
VencedorPerdedorArgh ganha 2XP
:relaxed:♠Argh 1 dano
♠:relaxed:Abutre 1 dano
♦♦Ambos defendem
EmpateEmpateAmbos ganham 1 XP
:relaxed:♦Argh finta
:relaxed:♦Argh finta
:relaxed::relaxed:Cansaço
EmpateEmpateAmbos ganham 1 XP





























JAKKUCROCODILORESULTADO
:relaxed:♠Jakku 1 dano
♦:relaxed:Crocodilo finta
:relaxed:♦Jakku finta
PerdedorVencedorCrocodilo ganha 2 XP
♦♠Jakku defende
♦:relaxed:Jakku finta
♠♦Crocodilo defende
EmpateEmpateAmbos ganham 1 XP
:relaxed:♦Crocodilo finta
♠♠Ambos 1 dano
:relaxed::relaxed:Cansaço
EmpateEmpateAmbos ganham 1XP





























KITOKNEFRETRESULTADO
♦:relaxed:Nefret finta
♠:relaxed:Nefret 1 dano
:relaxed::relaxed:Ambos se encaram
VencedorPerdedorKitok ganha 2 XP
♦♠Kitok defende
:relaxed:♠Kitok 1 dano
♠♦Nefret defende
PerdedorVencedorNefret ganha 2 XP
:relaxed:♦Kitok finta
:relaxed::relaxed:Ambos se encaram
♠♠Nefret 2 dano. Kitok 1 dano
EmpateEmpateAmbos ganham 1 XP


Última edição por Anfitrião em Qui Nov 19, 2020 2:32 pm, editado 2 vez(es)
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